12/20/2008

Álogos é o absurdo

Álogos é o absurdo, a desrazão, o ininteligível. Seria o álogos a não-escrita? Ou a escrita do imprevisível, do impensado? A razão é o refúgio do não-pensar, ao se contentar com o que já se concluiu anteriormente. Ser o além-do-homem não está nas grandes palavras de ordem, nos grandes sistemas, nos grandes derramamentos de sangue (este é o território demarcado da razão); o além-do-homem está nas pequenas ações, nos pequenos vômitos de cada dia, ao sentir nojo da gentalha; está no espaço em que a razão ainda não chegou, nem chegará. Se o lógos é uma mentira consensual, prefiro ser álogos. Absurdamente.

3 comentários:

Aldemar Norek disse...

Olá, André, td bem?
Legal contar com sua participação aqui. Es bangalô precisa de mais movimento a partir de pessoas com alguma afinidade com o clima geral aqui. Pelo seu texto percebo que rola a afinidade. Espero que também sinta o mesmo.

Mas tenho algumas dúvidas sobre as entrelinhas do que você diz no texto. Tudo bem, a razão já vem apanhando desde antes de Nietzsche, sua primazia vem sendo questionada. Mas confiar na não-razão importa em não desconfiar dela, ainda que este desconfiar seja a partir das armas da razão - e fundar-se na não razão só é possível, pelo que entendo, a partir de algum tipo de fé, e aí não saímos do antigo binômio. O problema hoje é desconfiar da razão e não ter como aderir a fé alguma, ou seja, não tem chão onde o pensamento possa se apoiar. E você tem que dar o salto assim mesmo. Mas como?

grande abraço e
seja bem vindo ao barraco aqui. Bem, a chave você já tem.

Daniel F disse...

Pois é,

só acho que o pensamento não precisa de chão, o pensamento é que tira o chão. Pra mim, razão é uma forma de se resolver as coisas, um método entre outros.

De qualquer jeito, mesmo que a gente seja sem-razão, o discurso é cheio de razões. Por isso é tão difícil escrever sobre o absurdo sendo absurdo e não racional.

Abraços,

Daniel.

Álogos disse...

Aldemar e Daniel, obrigado pelos comentários e pelas boas-vindas. Só a afinidade nos aproxima, mesmo que esta afinidade seja entremeada de desentendimentos. Por isso, estou me sentindo bem à vontade aqui.
Quanto à questão do álogos, quando escrevi não quis fazer uma oposição clara entre as duas instâncias (lógos e álogos), uma vez que não acredito em oposições, mas diferenças. O absurdo, dentro da lógica do que escrevi, é uma maneira de libertar o pensamento de antigos padrões já conhecidos e pensar o que não foi pensado ainda. Isto não significa substituir a fé na razão por um outro tipo de fé, mas de cindir com a fé, estabelecendo um tipo de pensamento que crie seu próprio caminho. Claro que as amarras gramaticais e os limites da linguagem estão encarcerados no lógos, mas podemos chegar em outros lugares que não aqueles previstos pelas ferramentas limitadas da razão instrumental.
Em resumo, o álogos como proposta de pensamento autônomo, ao contrário das propostas kantianas do pensamento conforme a razão, voltadas não para a utopia (não-lugar), mas para a heterotpia (outros lugares). Para isso, não precisamos de chão, mas somos o nosso próprio chão.
Grande abraço.