12/11/2009

Solidão

Deito-me no sofá de minha casa. Exausto. Leio uns poemas soltos, ouço uma música intimista, observo a paisagem da minha sacada – tomada de prédios por todos os lados. Meus olhos já não veem concretamente, pois vejo apenas o fruto de meus devaneios no simples desarrumado da casa, na fresta da janela, dos objetos naturalmente desajeitados, no simples silêncio musicado de um devaneio. Não concebo devaneios que não possuam música ao fundo, pois tenho milhares de melodias em minha cabeça, que não se soltam de mim. Entendo, hoje em dia, como Beethoven conseguiu compor a Nona Sinfonia completamente surdo. Há vários níveis de solidão, eu sei. Os melhores, ainda são aqueles em que você consegue, solenemente, desprezar o mundo sensível a sua volta, em um profundo devanear. Desprezar os sentidos é uma das mais desafiadoras maneiras de sentir...

3 comentários:

Daniel F disse...

Tem uma carta muito bonita do Mário de Andrade em que ele fala que uma das maiores demonstrações de amizade é quando se consegue ficar em silêncio. Quando uma pessoa próxima demais não incomoda porque está em silêncio, acho que isso está mesmo além da solidão. A tagarelice também pode ser isolamento.

Enfim, estou continuando seu devaneio...

Álogos disse...

Olá, Daniel.

Este foi um devaneio de solidão, mas há muitas outras inspirações possiveis para isso. Como sentir desprezando os sentidos? Esta é uma questão pessoana que quero exercitar na composição poética.

Abraços.

M. disse...

não tenho dúvidas, rs, que minha tagarelice é alimentada pela minha incapacidade de me sentir só com prazer: devaneando...