Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
12/22/2010
Retornar (Homenagem a Alberto Caeiro)
Retorno porque nunca comecei nada. Retorno porque não terminarei nada. Se não vejo a terra na linha do horizonte, não quer dizer que ela acaba ali. Se o céu se encontra nesta tênue linha com a terra, não sei dizer se os dois morrem ali. Nunca vi. Retorno porque ninguém começou nada por mim. Ser solitário é depender unicamente de si e da realidade. Nunca vi o início nem o fim dela. A realidade está todo dia quando acordo, até quando me deito nela. Não conheço início, fim. Retorno porque existo. E existir é estar livre como o vento, que bate quando o outono chega. Como a água, que busco todos os dias para acalmar minha sede. Como o sol, que me aquece nos dias mais frios da minha vasta solidão. Não escrevo porque preciso. Mas todo poema que escrevo é um retorno a cada coisa que fiz durante a vida. Retorno a retornar, pois nunca deixei de retornar o meu retorno.
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