1/30/2011

[Continuo a errar] – inspirado pelo curta-metragem “Esboço para fotografia”

Planejei toda a minha vida profissional aos 16 anos. Mesmo com as coisas que queria aproveitar da minha adolescência, já tinha decidido o que queria para o resto da minha vida. Estudei, fiz provas, passei, me formei, fiz mestrado, doutorado. Fiz dois concursos, passei nos dois e cheguei aos 31 no cargo que eu tinha planejado e aos 33 com as atividades que sempre quis fazer, que almejei desde os 16 anos. Para muitos, isto seria o que chamam “dar certo na vida”. Talvez eu tenha “dado certo” para muita coisa. Não me arrependo de muitos passos que dei e, olhando para trás, vejo que alguns erros cometidos lá atrás não mudaram os rumos do que planejei aos 16. Tudo bem, muitas coisas eu consegui. Consegui acertar. Mas continuo a errar. Erro diariamente na minha vida. Pessoalmente, sou um fracasso. Não sei o que quero. Meu aparente “sucesso” me tornou uma pessoa fria, distante. Talvez por ter levado tão a sério meus projetos de vida. Talvez por ter levantado a cabeça em momentos que muitas pessoas simplesmente desistem. Hoje, olhando em volta, sinto-me sozinho. Gostaria de ter errado um pouco mais. De ter sido um pouco menos responsável. De ter deixado a vida me carregar mais displicentemente, com menos peso. De ter acreditado mais nas pessoas – mais ainda do que acredito hoje. De ter acreditado um pouco menos em mim. Estou envelhecendo sem perceber e sei que, daqui a 33 anos, não terei a possibilidade de começar de novo do mesmo jeito que posso fazê-lo agora. Bem, com uma encruzilhada diante de mim, sinto-me como aquele adolescente de 16 anos, que quer planejar a sua vida daqui em diante, com a certeza do que quer e aonde quer chegar. No entanto, não tenho mais a mesma certeza que tinha no passado. Sinais de maturidade. Não saber o que se quer fazer da vida, ter dúvidas, admitir que se erra, são belos sinais de maturidade. Talvez agora, eu possa me permitir um pouco mais, cobrar-me um pouco menos. Mas, para isso, preciso reaprender a viver. Saberei reaprender o que levei anos para me acostumar? Também não sei. Só posso saber que é preciso erguer a cabeça, respirar fundo e seguir em frente, com a bagagem mais leve, com os ombros mais levantados – carrego até hoje um peso imaginário em meus ombros –, sem esquecer totalmente quem sou, mas com a ideia que meus projetos precisam seguir mais devagar. Continue a errar, mas com calma. Calma.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Herrar é umano, Álogos.
Tem um verso de uma música que diz:
"quantos defeitos sanados com o tempo eram o melhor que havia em você"...
Gostei do texto, Álogos.
Forte abraço