Quando dei aula numa Facu em Brasília fui obrigado a assistir, naquela detestável reunião de começo de ano, ao vídeo mais infame que já foi feito em todos os tempos. Baseado num livro de auto-ajuda empresarial, best-seller da gestão post-moderna. Demorou, mas resenhei o dito. O clima tolinho da resenha tem a ver com os comentários que os puxa-sacos (como gostam de ser vítimas, coitados, sofridos os professores...) fizeram após a sessão Laranja Mecânica.
Era uma vez
Os dois duendes doentes
Mais os dois ratos dementes.
Moravam num labirinto
Sempre à procura de queijo.
(E o pedaço de queijo
É o que você imaginar
Num gostoso manjar:
Um beijo? Beijo não!
Um bom carro do ano.
Desejo? Desejo não!
Mas uma bela mansão.)
Os ratos não paravam
Pra respirar e pensar
Pequenos self-made mouses
Queriam se estourar.
Um era mais que perfeito
Logo fisgou, e de jeito,
Todo o sentido da vida:
Uma constante corrida
À procura de queijo
A ventura da aventura.
Mas no outro deu defeito
O defeito de pensar
Só pra poder reclamar.
A coisa ainda piorou
Depois que ele encontrou
Uma novela de Kafka
Ardida como uma afta
Chamada A Construção.
Ali o duende aprendeu
Que labirinto é prisão
(Vejam os muros altos...)
Que queijo é insosso
E causa má digestão
E em sua nova demência
Inventou a ciência
De procurar a saída
Do labirinto maldito
Que se fingia de vida.
E em versão moderninha
Com mito e psicologia
Sacou a simbologia
Do labirinto e do queijo
Na repressão do desejo.
Seus três ex-colegas
Os self-made mouses
E o duende previdente
Na inflação dos egos
Sofriam, em sua ótica,
De compulsão psicótica.
Mas seu fim é tão triste,
Que sinto muito contar
Neste conto da gestão
“Pra vencer mentalize”
Que devia ter a lição
De moral, conclusiva:
Isto porque escondido
No grande monturo
De queijo mortal e fedido
Morava o voraz, cruel
E feroz minotauro.
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