É um livro embolorado, um veneno que entra pelo nariz e te metamorfoseia num sapo peçonhento.
Napoleão, o pequeno, o infame, o Rei da Farsa e sua sociedade de jogadores, gigolôs e editores entra pela porta dos fundos de um livro de Marx, a pontapés, e esmagará o poeta que morre sob a barricada, abraçado à carniça que refletia a imagem da musa tuberculosa. Como de cada causa se segue um efeito, o poeta enterraria a felicidade sugerindo a você que esmurre mendigos.
Em outro canto, Dostoievski lê o relato dos desejos Imperiais de Napoleão III e escreverá uma coisa que, com mais velocidade do que o seu misticismo de bêbado, caiu no Eldorado onde se encarcerava o poeta antitropicalista, como veremos adiante. Mas antes, são as idas e vindas do tempo que adianto a você leitor, sob o manto de Napoleão III Dostoievski pensa na consciência de um pequeno assassino e o livro, agora sim, devidamente editado pela União Soviética em plena fase gulaguista, viria a ser traduzido para os brasileiros pelo Puxa-Saco da Consciência Nacional, o Intérprete das Frases Sibilinas do Chefe de Governo (p. ex. “a história sempre muda”) que terá negado para si mesmo qualquer semelhança com Napoleão III ou Tibério, o déspota ressentido que brutalizava menininhos em cavernas. O tradutor em questão, Rosário Fusco, depois do Estado Novo cai em desgraça e se tornará um bêbado marginal autor de histórias fantásticas que parodiaram a noção jurídica de responsabilidade. Dostoievski não mandou dar porrada em mendigos, mas ensinará a cuspir no palácio de cristal.
Sobre o tema bebedeira e marginalidade muita coisa ainda poderia ser escrita em apêndice: Torquato Neto e o anjo torto citado na carta de Honestino Guimarães à sua mãe, a garrafa de vinho ainda guardada, a promessa de que o filho estaria vivo pra comemorar o Natal e o sumiço definitivo descoberto depois de muitas expectativas (para as autoridades, ele estava morto há tempos). Isso nos levaria de volta ao tema do mesmerismo, do magnetismo mental, da revolução e de seus herdeiros degenerados em Tiranos e paródias de Tiranos. Do mesmerismo chegaremos a Paulo Coelho, que enfim prefacia o romance de Rosário Fusco. Com Paulo Coelho, seria o fim da linha, a partir daí um grupo de meninos arrogantes e detestados pelos colegas da escola repetiram “Paulo Pentelho”, “Amebas Flutuantes”, escrevendo no quadro-negro Alunos de todo o mundo, fodam-se.
2 comentários:
A-do-ro seu texto. Muito, muito. (Tenho um aluno que tem me trazido um pouco de esperança. Bom né?)
Oi Eliana,
sim, isso é muito bom. Sou do tipo de professor bem babão, os alunos quase sempre me dão muita esperança. Em geral, são melhores do que os professores. Mas o mais legal é quando o aluno te surpreende - dos que mais gosto são aqueles inteligentes que duvidam do que eu digo, discordam e ficam me olhando com uma cara "por que esse cara tá falando isso?".
Abraço,
Daniel.
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