Expulsos do paraíso, ‘agora
é tarde’, ela disse sem deter
o olhar, como se o tempo não fosse este delírio
circular – ruínas se precipitam em silêncio
veloz como as âncoras
cravadas no corpo que se afasta. O paraíso
tem muitos quartos, escadarias,
longos corredores, vozes sem dono, espelhos,
e tanta coisa e ao mesmo tempo nada
que possa deter a felicidade, ‘ela
não se detém nem amarrada, cara’, o paraíso talvez
seja conhecer as coisas do mundo e o chão
duro onde elas se apóiam, e abraçar
o delicado tormento tão colado
ao desespero, às suas dívidas, metais, desassossegos,
enquanto os carros
vêm e vão e param nos sinais e avançam
e você considera
que estar numa praia distante ou
num pequeno porto entre salinas quando
se percebe que olhar o horizonte
é ser feliz, ou no paraíso, ou
no inferno, ou
na rua mais turbulenta do planeta ou numa casa
de loucos dialogando
com os ratos, não importa, seu destino
vai estar no seu encalço e vai dizer assim: 'o labirinto
é encontrar a alma na vertigem
do corpo, o minotauro
é perdê-la'.
(das "Notas Marginais")
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