4/05/2007

Os Aborígenes do Capitão George Grey ( As Notas de um Explorador segundo a Metodologia da Resenha Surrealista)


“Os mais miseráveis, estagnados: o sentimento de insuficiência disfarçado no apego à paixão por si mesmo. Verdadeiros fósseis para a nossa curiosidade
geológica (nietzschean egoarchy­). Proporcionalmente: a distância evolutiva entre eles (aborigines) e um macaco superior é menor do que a distância que os separa de Shakespeare, Goethe, enfim, os grandes gênios da literatura.”

“Como no caso daquele velho, o único do lugar que podia tocar os doentes, propor-lhes a cura. Vivia se arrastando pelos cantos, comendo os restos que a comunidade largava (junkie food), os olhões atrás da moita. Uma figura deplorável, usando um desbotado manto púrpura. Aquele olhar de cachorro chutado faria tremerem os alicerces da civilização (how do I know if my civilization is declining?).”

“Mas quando uma baleia encalhava nestas praias que o demônio esqueceu, era para todos um presente dos céus (godsend). Lambuzavam-se na gordura, abriam a carne do cetáceo com as unhas, usavam a pele rosada do bicho como escorregador (playground). Comiam a carne e as vísceras por vários dias, não os incomodando o estado de putrefação daquela intragável ambrosia.”

“O espetáculo mais repelente que já se viu desde que o homem deu o grande salto - quando cheguei por aqui a cara deles era como a dos trapezistas que escorregam sem rede de proteção (eyes fixed on me): o abuso daquela comida nojenta causava peidos e diarréias incontroláveis, mas eles não se envergonhavam de se atracarem em rixas mesmo que suas peles estivessem repletas de feridas causadas por ensolação e intoxicação alimentar.”

“Nada no mundo é mais revoltante para o explorador do que se deparar com uma bela jovem indígena, o corpo graciosamente esculpido pelo Divino Acaso naquele balanço do mar em bossa nova, saindo de dentro da carcaça de uma baleia em putrefação (there is no sight in the world more revolting than to see a young and gracefully formed native girl from Ipanema stepping out of the carcasse of a putrid whale).”

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