"Não almejam (aqueles bons poetas, os inventores*), como as viuvas de Olavo Bilac e Gonçalves Dias, retomar os metros clássicos, o soneto reciclado ou a retórica de juristas da província, mas...."
Claudio Daniel (no prefácio de Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil)
* inserção nossa, elucidativa.....
me ancoro na Virtude, amo o Vício
e o Caminho já não me captura.
Perdi o senso e ainda que sentisse
o mal na pele, ao largo da Ventura,
contra a Natura e em franco desespero
barganharia um tácito armistício.
Largo a Fortuna, a previsão, o esmero
e ando sorrindo aos cravos do suplício.
De fato em nada mais eu acredito
e assim destilo em gotas a ironia
- quer no sentido lato, quer no estrito;
recolho as armas, ponho o meu pijama
e vou sonhar com a Musa, esta vadia
que (há muito tempo já) não mais me engana.
2 comentários:
Muito bom Aldemar, e muito moderno.
O sujeito não precisa usar métrica e soneto pra ser neoparnasiano, é ou não é?
Aliás, um palpite: aquela escala do Pound, inventores mestres e diluidores, acho que fazia sentido nos livros dele mesmo, onde mais importante do que esta classificação era a própria trilha da poética. Acho que estes rótulos foram, pra ele, fruto de uma longa reflexão, e não o ponto de partida.
Mas rola um lance parecido nas ciencias sociais e humanidades quando o pessoal começa a "aplicar" o método de fulano como se fosse uma verdadeira injeção! Agora o pessoal vem usando isso como rótulo totalmente vazio: como mais uma estratégia de mercado ou de autoafirmação pela via da negação alheia, então qualquer um escreve um comentário crítico ou prefácio dizendo que fulano, ao contrário de sicrano, é um inventor. No pior dos casos, o cara se autoproclama Inventor, quando um bom (ou não...) Reciclador seria mais nobre e mais honesto.
Por essa Pound não esperava: até a classificação dele tem os seus "diluidores"...rs
ahahah....é mesmo:diluiram a o conceito de diluição do Pound. Tá certo que a gente meio que se maravilha ao ler pela primeira vez o ABC dele - mas daí a isso virar categoria, estátua de sal, acho que não era isso q ele faria....
Sobre neoparnasianismo sob a pele de invenão (hum, não tem veneno nesta expressão, please...): estava relendo mais de dez anos depois o "Uma carta uma brasa através - Cartas a Regis Bonvicino 1976/1981)" do Leminski e, bem, acho as cartas bem representativas daquele momento e da efervescência e humanidade do Leminski (adoro ler cartas, elas flagram os momentos mais humanos das pessoas), mas não era isso que ia dizer, o que ia dizer é que me deparei com os seguintes trechos:
- "não seja sectário da vanguarda, negocie, ganhe um ponto, apóie-se nele, tente outro, pluralize, democratize, abra..."
- "o esplêndido isolamento dos poetas inventores numa nação de medíocres poetas sociais é apenas um dos papéis rolês possíveis...e vai ficar cada vez mais furadinho..."
- "....dialogar....não esqueça, interlocutor a gente não inventa...são aqueles caras que tão lá, aqui, é com eles mesmo, burros, tapados, indiferentes, ou não, q v. vai ter q falar...a linguagem das massas está para a vanguarda assim como a vida e a ação estão p/ a reflexão aristocrática/vanguarda nobilis..."
é isso aí - o pensamento do cara não era imobilizado como querem fazer parecer por aí.
abração
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