Ele pega o pedaço de fio elétrico caído no asfalto. Primeiro, sorrindo, enrola o fio no antebraço – depois, com o mesmo fio, amarra um jornal que um pastor evangélico lhe deu de madrugada. Ele tem um curativo na cabeça e pedaços de grama no cabelo. Sua boca arde quando não bebe de manhã.
Outra noite eu segurava um cinzeiro azul, velha recordação da família dos outros.
Na portaria do condomínio Ilhas do Caribe uma senhora diz ter medo de passear com seu cãozinho. Há três dias aquele marginal dorme na calçada
Nos pontos de ônibus jovens de belos corpos pintados roubam o lugar de mendigos e vendedores de chicletes.
Por um momento, sei que ele pensou em me matar com o fio elétrico. Ele sorriu de um modo estranho, mas logo me disse que não mais mataria alguém para manter seu vício. Eu respondi, neste mundo escroto só nos restam os amigos.
O cinzeiro azul caía no chão. Numa luz ainda estranha, eu acordava e pensava nas coisas que encontraria, apostando na sua familiaridade.
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