O branco persegue o azul. O branco assassina o azul
e a vista cansada ao
sol de dezembro injetado na veia -
Areia quente e branca nos olhos.
* * *
Mal saio de casa
e a poesia me persegue;
a poesia não cabe
em qualquer teoria, a teoria
persigna a poesia.
* * *
Meu irmão me disse que só sabe que amo porque escrevo. Fazer o quê, prezado leitor?
* * *
Não diante do senso, do Juízo
de Oito-Olhos
basileu desta cidade
esburacada pelas crias
de um buraco-negro
(o Aleph não,
o Aleph é teologia barata e falando nisso não sei porque tanto se diz que o diabo pressupõe a existência de deus. Pode ser que apenas o diabo seja, ou deus esteja
usando silenciador em seu revólver)
* * *
Uma cratera pode se abrir
e te tragar em cada esquina,
há no subsolo de Campinas
uma porção de ampulhetas
sedentas de areia branca.
Fazer o que, prezado leitor?
Calar-se?
Olha olha
O silêncio
cala fundo
cava fendas
cria calos
em tudo o que digo, além disso
não há silêncio &
silenciamento é o que há
o que há é o silenciamento
apenas,
e seus mandamentos
gritantes, por sinal.
* * *
Tudo o que você deixou de dizer virou um carrapato nesta língua
anêmica,
onde a palavra
jaz esquecida
(na ponta da língua)
ou numa tradução
equívoca
de Philip Larkin:
a roda
da vida
é foda
mas se pode
escolher
se outro inocente
vai se foder
com a gente.
* * *
O verbo não se fez carne
para o cala-te boca.
O terminal rodoviário cria musgos pelos desejos perseguidos
e assassinados, enquanto trocamos impressões sobre o clima
alguém jogou uma pedra na janela do 331,
minha linha,
ainda se vê a mancha de sangue onde o menino foi atropelado
que lembra a marca do corpo do jovem que se suicidou aos pés da rádio muda.
e alguém me dizendo mil vezes que no mundo se fala demais.
3 comentários:
Isso aqui é genial, Daniel - embora não goste da palavra "genial", pelo conceito (esterilizante) que embute, e seus jogos (antiquados) de poder.
abração.
Eu também não gosto da palavra, Aldemar. Mas porque pra mim genial é aquela versão antiga da Maria Bethania cantando Tres Apitos, ou Nara Leao cantando o Cuitelinho, ou um blues, sei lá, BB King cantando pra Lucille, ou aquela música Los Mareados.
mas vindo de você, sei que vem cheio de amizade, então recebo assim.
Grande abraço,
Daniel.
a gente podia incluir aqui todo o Noel Rosa ("pra que mentir/ se tu ainda não tens/ esse dom de saber iludir"), o Cartola e o Nelson Cavaquinho. O Bukowski. E todos os que não seguiram exatamente as regras.
Quanto à amizade, podes crer amizade.
abração
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