- Ver o vermelho (pra explicá-lo)
- O vermelho representa
alguma coisa: vasos
sanguíneos,
sensualidade, fogo ou
buceta em flor depois da foda:
o sangue pode estar em transfusão
ou saindo por um corte
que por sua vez
pode ter sido por faca
garfo, lança ou espada:
o fogo pode estar
diminuindo
mas é um fogo imaginário
em tudo isso há
um núcleo de vermelho
decifrado.
- A essência da tela
posta em questão
está escondida
na haste vermelha.
- A metade de cima
é o que seria um shoppingcenter
pra vocês (na sua imaginação)
a de baixo é uma praia
de paulistanos,
- Modernidade, atraso
missão civilizadora
bandeirismo, escritores
em Ouro Preto, essas coisas
estão espalhadas
nas partes verdes do quadro.
- Aliás, pensando bem,
deixem de fora a buceta sublinhada
no início do passeio
não era esse o projeto
modernista
que enquadra.
- Em dúvida
cruzem a rua
e confiram
Gilberto Freyre e a relação
entre a família patriarcal
e o açúcar, congelados
em microondas.
- O bicho tem uma boca pequena,
não dá pra saber
se domina a língua
portuguesa.
- Ver com olhos livres
não é ver como se queira,
- Caros visitantes
todos os olhos são armados
o de fulano com uma bazuca
o de beltrano com um alicate de unhas
o de cicrano com a colubrina
vamos então espicaçar
o Abaporu
o bicho tem que se explicar,
e sim senhor
dar uns passos pra trás
e coçar a barba
faz bem.
- O direito de existir
é o que está em pauta
ele deve se comportar
como o canibal patriótico,
é o que se prescreve
num caso como este.
- Se ele foi adestrado?
- Continuando meus queridos
este pé inchado
pode ser de bebedeira
vejam os olhos de ressaca
do animal,
mas claro que estou
simplificando pra vocês,
é o inefável
da anedota e o registro
não é do pitoresco.
- Pode ser que ele tenha
pisado um formigueiro
antes de ser flagrado
pela artista genial
num hotel de Florença
ou sob a estátua de Stalin
- Mas tem que ser alguma coisa
nada é que não dá, por que
a moldura é prateada?
- E se for alguma coisa
você deve dizer logo
(virando-se pro bicho)
- Como quem cala consente
adianto que:
verde é natureza &
vermelho é fogo,
de fogo vem ar
de ar vem água
de água vem terra
de terra, umbigo,
daí pra língua é um passo
e a mente retorna
ao fogo.
- Ver-se na pintura
não pode se perder,
o animal ou se domestica
ou que morra de fome
no fundo do mar (vai
fazer companhia
pra Dom Quixote
em bronze no porão
do museu).
- E você aí garota
calma não precisa chorar
esta paisagem é só São Paulo
vai lá fora e veja por si mesma.
- Não, o animal não está se mexendo
como um peixe confinado
num aquário muito pequeno,
não ele não está sumindo
- Deve ser a depressão de fim de férias.
- Não, ele não vai sair do quadro.
Um comentário:
Hahaha! Adorei!
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