1/12/2008

cinema contemporâneo




Depois que as imagens deslizaram imensas e coloridas
e escorreram pela tela
como no tempo as horas sem direção,
mesmo (penso) que rumo a um vazio sem nome
e sem volta e no entanto
sempre tocando, circulares, seus princípios do modo como faz
quem, com saudades de alguém
morto, projeta por dentro em sua tela
o instante exato em que ocorreu
o crime, e considera
com extrema dor a extensão
do vilipêndio ao se lembrar que as coisas
são materiais, tangíveis, e não se dão
como acontece no cinema (quando
acendem as luzes no fim da sessão
e você enxuga a lágrima ou esquece
o riso e torna a pensar
nas contas a pagar, no engarrafamento
e no que vai comer
em casa), as coisas
são palpáveis e orbitam num tempo
circular que afasta
qualquer abstração no que elas
passam batendo pelos muros da memória
e afinam em seu corpo, ao longo
das fibras da carne, as cordas sempre tensas
da mágoa e da tristeza, ou da alegria, é assim
mesmo e nesse mesmo instante
que me lembro.

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