Feridas Marinhas
Primeira Ferida
Pássaro de bico pontiagudo
Que absolutamente não canta
Salta do liso e verde mar
E fere meus olhos.
Inocula um líquido negro e denso,
Negras lunares flores marinhas.
Pássaro daninho:
Depois disso
Em tudo o que digo
Sinto
Cheiro de pétalas negras.
Segunda Ferida
Vocês nem perceberam
Mas lentamente
Um mar em mim crescia.
De águas pesadas e absinto
Verde apenas na aparência
Da superfície lisa –
Sob a pele fina
Uma substância escura,
Outras águas
Fervendo geladas,
Águas natimortas que cresciam
O mar que em mim crescia.
Vocês não viram, não vêem,
Mas seus olhos
Perderam o brilho
E seus dentes trincaram
Nas insidiosas águas
Do mar que em mim cresceu.
Terceira Ferida
Vejo
Um corpo à deriva
Sem olhos
Dentes amarelos
E pele cinza
Preso num daquelas gaiolas
Aquelas que os mergulhadores usam pra se verem livres
Dos tubarões.
Vejo o corpo
E sei que ele é frio
Porém vivo com sono e fecho a tela
Verde-líquido.
Um comentário:
Este poema tem um clima absolutamente cruz-e-souza, não?
Não sei se reforça o clima os adjetivos em sua maioria virem antes dos substantivos....foi intencional? tem alguma função? é que me parece empacar a "fala" do poema em muitos momentos.
Mas do clima cruzesouza-simbolista eu gostei.
abração
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