1/13/2008

Feridas Marinhas

Feridas Marinhas



Primeira Ferida


Pássaro de bico pontiagudo
Que absolutamente não canta
Salta do liso e verde mar
E fere meus olhos.

Inocula um líquido negro e denso,
Negras lunares flores marinhas.

Pássaro daninho:
Depois disso
Em tudo o que digo
Sinto
Cheiro de pétalas negras.


Segunda Ferida

Vocês nem perceberam
Mas lentamente
Um mar em mim crescia.

De águas pesadas e absinto
Verde apenas na aparência
Da superfície lisa –

Sob a pele fina
Uma substância escura,
Outras águas
Fervendo geladas,
Águas natimortas que cresciam
O mar que em mim crescia.

Vocês não viram, não vêem,
Mas seus olhos
Perderam o brilho
E seus dentes trincaram
Nas insidiosas águas
Do mar que em mim cresceu.


Terceira Ferida

Vejo
Um corpo à deriva
Sem olhos
Dentes amarelos
E pele cinza
Preso num daquelas gaiolas

Aquelas que os mergulhadores usam pra se verem livres

Dos tubarões.

Vejo o corpo
E sei que ele é frio
Porém vivo com sono e fecho a tela
Verde-líquido.


Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Este poema tem um clima absolutamente cruz-e-souza, não?
Não sei se reforça o clima os adjetivos em sua maioria virem antes dos substantivos....foi intencional? tem alguma função? é que me parece empacar a "fala" do poema em muitos momentos.
Mas do clima cruzesouza-simbolista eu gostei.
abração