4/28/2007

O Bom Combate

Ela gosta de falar do noivo dela e não percebe que minha cabeça funciona melhor sem a luz. Um bando de anjos Aracnos brilhando dentro com o fio de suas espadas, ardendo, e não é o vento que arranha a janela quando ela não consegue dormir, são as patinhas finas e aguçadas dos anjinhos sacanas.
Mas ela vira e mexe fala do noivo dela, em assuntos mal pretigiados como a indicação de um número circular de livros na biblioteca por exemplo. Ela não percebe, nas horas mais loucas ela fala do noivo dela como se fosse um carrapato preso em sua língua e ela para piorar usa aparelhos que se salientam quando ela ri do fundo do cristal que ela assim: ela está sentada e não vê entre ela e eu os búfalos e a poeira vermelha ao seu redor e fica rindo e falando do noivo como se isso fosse natural, como se as conversas fossem todas naturais, como se não fosse suficiente ela saber que o noivo dela é um arame entre ela e o mundo, o marco da realidade que impede que ela se perca no mar abrasivo de nossas palavras, como se um bando de clichês não gritassem seu nome em minha cabeça.
Apesar disso, sei que não fosse a Cabra Velha e suas frases encomendadas a roteiristas de desastres aéreos, não fosse a Cabra Velha parida não sei onde e seu par de espadas negras girando (Cabra Velha kantiana: “se a carrocinha pergunta a você onde se escondeu o pobre cachorrinho seu dever é dizer a verdade”) não fosse a Cabra Velha e sua agenda de versinhos para cada dia da semana, a outra teria coragem de virar a janela ao avesso e traduzir para mim os anjos em código morse.
Mas o eu, o me e o mim, ela e o carrapato apenas dirão bom dia Cabra Velha, ainda bem que o feriado está chegando

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

mas e aí? rolou?
;)