Vista, senhor Y, esta luva cirúrgica e com sua singularíssima tesoura inaugure a lata de lixo prateada inscrita em cores berrantes
Take it easy Destampe a tal e se lamente, o dicionário de odores ainda é pobre para tanta intensidade olfativa. Vamos ver o que temos neste autêntico
Museu:
Um coração de papelão vermelho esgarçado e desbotado quase fígado. Vinte santinhos de candidaturas cândidas ditaduras e seus números. Uma foto de Raul Seixas (Let me sing, let me sing) em meio a uma porção de carteiras de identidade. Longos fios de cabelo de todas as cores enrolados em cartões coloridos em vários formatos
Amor, amor, amor, amor, amor,
encardidos por vômito amarelo colhido num mictório num Dia das Bruxas Esquizo Man XXI. Mensagem em pedaços de papel-seda como faziam os seqüestradores de histórias em quadrinho
r e s g a t e
Um projeto de curta metragem assinado Torquato Neto. Bela Magnólia Sentada no Sofá. Restos de livros muitos e um à guisa de conclusão: a saída está na próxima página. Uma flauta feita de vértebras enrolada no papel Estadão. Uma vontade de sumir. Um mapa do tamanho de Brasília representando Brasília. Uma caixa cheia de insetos pegajosos anunciados por Cid Morengueira. Alguns gritos extraídos da parede branca. Garranchos infantis em que a Caveira Imundinha lembra algum rosto familiar: bigodinho, sorriso cínico, boca mole, barba branca, verruga na testa, óculos fininhos de aros grossos do Magrelo Cabeçudo. Claro que tem resto de comida: strogonoff, bife acebolado e caruru do Recôncavo Baiano. Alguém que parece Renato Russo que parece Sílvio Santos que parece Padre Marcelo repetindo isto não é um cachimbo. Um pouco de palha seca, pegadas na areia e o coqueiro usado como alcova em Tieta do Agreste derrubado por Maguila com um soco no auge do turismo linha-verde-com-enxofre. Uma fita amarela e o nome dela. Um coração que ainda palpita infravermelho e dentro do coração uma dentadura de dentes afiados e peçonhentos. Dentro dela um bilhetinho:
Meu nome é por sua conta.
2 comentários:
DEMAIS!
Que texto cheio de cores! Um cut-up de imagens, não de palavras. Adorei.
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