Hoje pela primeira vez, como se inaugura
um porto ou um jardim, você
disse a palavra, 'é inaudível, eu sei', você disse sem resposta, sem
estoques de esperança ou mapas, não rola
pela ponte cediça em que você está
sozinho, não rola
aquilo que reverbera, e então,
olhando ao largo, arrisca: “arregaça, arregaça
os punhos, paixão, e termina logo
com este estupro, como quem
não quer nada”, mas no deserto o som
atravessa a miragem, que diz “não sei mais
como lidar com isso” e segue, na vertigem
do infinito.
um porto ou um jardim, você
disse a palavra, 'é inaudível, eu sei', você disse sem resposta, sem
estoques de esperança ou mapas, não rola
pela ponte cediça em que você está
sozinho, não rola
aquilo que reverbera, e então,
olhando ao largo, arrisca: “arregaça, arregaça
os punhos, paixão, e termina logo
com este estupro, como quem
não quer nada”, mas no deserto o som
atravessa a miragem, que diz “não sei mais
como lidar com isso” e segue, na vertigem
do infinito.
(das Notas Marginais)
4 comentários:
Me identifiquei com esse. Só que, sei lá, o importante é reverberar, redundar. Aliás, a redundância é um dos meus assuntos preferidos.
Oi, Eli.
Achei bacana a identificação.
Mas entre reverberar e redundar vai uma diferença grande de sentido. E no poema, o que desejo (desejava?) é justamente a reverberação, na medida em que reverberação só se dá na vibração, através da, e isso significa trocar com o outro, tocar o outro, ou ser tocado.
No caso da redundância acho que a gente fica mergulhado num mar de comunicação, mas ela acontece num patamar de superfície, talvez pela velocidade - a comunicação de verdade, ou a melhor, precisa de tempo. Tem um lance também que as pessoas precisam falar - ouvir é outro papo.
A redundância pra mim parte daí, e também do fato de que, se ninguèm ouve (poucos) é preciso falar as mesmas coisas sempre, tudo de novo. Lá naquilo que chamam de Café na Cronópios alguem um dia postou um comment negativo, e batido até, de que tudo já foi dito (...e não creio nisso). Tudo bem, se tudo já foi dito, ninguém escutou, então vamos falar tudo de novo, de outra maneira...
Porque se você lê Pessoa, Emily Dickinson, Torga, Ginsberg, Gullar, Maiakovski, tem muitas coisas comuns, os temas de sempre - o que muda é a ótica, o olhar. O que não deixa de ser uma forma de redundância. Será que daí se conclui que tudo que é humano é redundante?
bjs
Existe um grupo na ECA-USP que pesquisa uma nova Teoria da Comunicação que tem a ver com essa sua intuição: vivemos mergulhados num ruído de fundo, uma grande e caótica emissão de mensagens redundates. Nesse tecido, algumas mensagens, por motivos os mais variados, são mais observadas do que outras. Falei muito sobre a redundância e o ruído em minha dissertação de mestrado. Se quiser, dá uma olhadinha no site da USP: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-20042006-130352/
Beijos!
Bacana, vou ler mesmo, com muito prazer e interesse.
Mas por outro lado (e isso não se refere a você, Eli), leio muito material produzido pela academia, sobre muita coisa que me interessa (afetiva e intelectualmente, se é que dá pra separar, pq pra mim não dá) e acho que eles é que têm o tal ruído de fundo, de forma geral, um cacoete, uma voz previsível. No meio a gente pinça (ou escava) umas coisas realmente inteligentes e que não são mera mistificação de um saber em tudo relativo e questionável, embora sob a tutela da universidade (porque cada um escolhe o deus que lhe convém...difícil é andar sem deus e sem teto).
Vou baixar aqui sua tese e imprimir. Depois comento, ok? Ando no meio de um daqueles turbilhões de trabalho, mas encontro um tempo de ler sim. Obrigado, Eli.
Bjs.
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