"Enigmas e aberrações da alma humana:
Fatos tais como a escrita automática, que desempenham tão importante papel nas pesquisas psíquicas, parecem ser unicamente fatos de dissociação mental, múltipla personalidade. Devem, portanto, ser analisados sob a mesma perspectiva com que tratamos o caso da moça B, virginal e afável, que se desdobrava nas personalidades B2 e B3, sensual e falastrona uma, infantil e asquerosa a outra. Algumas pessoas que têm o dom da escrita automática verificam obter os melhores resultados quando, depois de tomar um lápis na mão, concentram a atenção numa conversa fútil, outras anulam a vontade até quase caírem em transe. Um caso interessante dessa natureza verificou-se recentemente nos Estados Unidos. Um ativo corretor de fundos públicos, que quase abominava a literatura, ostentando ignorância, mas falsa e empostada (porque se soube que ele lia, e muito, às escondidas), e brutalidade, esta verdadeira, como motivos de júbilo pessoal
, manifestou veia poética nos momentos em que se achava no estado intermediário entre sonho e vigília. Seus versos eram tão bons que, enviados a uma revista literária, foram aceitos e publicados. Desde então, ele ganha algum dinheiro compondo poemas subconscientemente. Tais poemas são, indubitavelmente, produtos de um romantismo do tipo "mal-do-século", que havia sido recalcado pela vida de negócios."
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
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3 comentários:
hilário e delicioso, Daniel.
Tenho pensado muito tbm sobre a "produção de sentido" em suas várias formas (e na ausência dele tbm).
abração.
Oi Aldemar,
por conta da minha pesquisa, sou obrigado a ler umas coisas muito loucas, com esse ar de humor surrealista, involuntário. isso aí é uma coleção de divulgação científica que saiu em 1940, "a ciência da vida". O HG Wells escreveu junto com dois biólogos. O tradutor é o fascistão, no sentido certo do termo, que provavelmente escreveu o discurso de posse do Vargas na Academia Brasileira de Letras.
PS. eu achava que auto ajuda era coisa mais recente. mas num livro que comprei, dessa coleção, vem o anúncio de outro: "Pense e fique rico", escrito pelo "magnata do aço", Napoleon Hill. No índice, o livro fala de pensamento positivo, mas tem outros lances: telepatia e o "mistério da transmutação do sexo" e "como engambelar os 6 fantasmas do medo"!
Abraço!
Daniel.
pois é, e tudo isso aí é a tentativa (estapafúrdia) do (novamente) sentido.
abraços!
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