Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
11/07/2006
Trem Fantasma
(Dolores Duran em vinil arranhado, ao fundo...)
entropia de luzes prévias
como a treva e o cio
das estrelas cancros de rancores
vagos e ardendo (ocaso de promessas...) dentro
não paira nem
vacila (olhos vendados!)
eclipse final das esperanças sem premissas
plenário das ausências reunidas
azinhavre por sobre a pele cínica dos dias
azulejos brancos bisotados compostos contra a
louça azul de um ton sur ton como a agonia
das manhãs de cadafalsos entre as flores
fáceis onde eu não
conheço exatamente a fímbria
(joelhos contra
o chão!
pés amarrados!) diazepan xenical paracetamol café de tez
amarga em chávenas de lata e a estreita
clara mas estreita várzea de uma voz
que cala e se multiplica dentro
das mesmas tardes de terra seca
fala seca beijo de saliva seca
píncaros de lama seca
(areia movediça!
merda!) :
para enfeitar a Noite do meu Bem.
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2 comentários:
Pois é, fica o dito e redito por não dito. Ainda não sei como uma canção chama a outra, mas que chama chama. Acho que esse seu poema daria uma ótima segunda parte pra Noite do Meu Bem. Como esse bem demorou a chegar... Pensei também na demora de Chapeuzinho Vermelho a caminho da casa da vovó-ansioso-lobo mau. E já que entrei nessa onda de associações loucas por causa do climaepistolar: odeio aquela bossa nova "lobo bobo".
O choque entre o meio e a primeira e última frases contrasta singularmente, e faz na sucessão o que os parênteses fasem na simultaneidade. :)
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