1/23/2007

Alvura*













Minha pele estendida
E a dor que nunca chega
Que não é suficiente
(Nunca é suficiente)
Que não basta.

(Ah, os piratas! os piratas!
A obrigar-me. )

Vem - eu te peço
Fazer-me teu chão
Teu traçado.

Teu cândido desterro.

Só mais um fim
de um teu poema.


*em homenagem a Masoch e Álvaro de Campos, espurgo de um sonho que me fez chorar.


8 comentários:

Haemocytometer Metzengerstein disse...

"Os Piratas" me lembrou a "Pirate Jenny" da Ópera dos Três Vinténs, a mesma Geni do Chico.

"Desterro" era o antigo nome de Florianópolis ou de Curitiba?

Bejo :***

Eliana Pougy disse...

Me inspirei na Ode Marítima do Alvaro de Campos. Tem tudo a ver com um sonho que tive hoje, masoch total. Nada de Chico. Hehe. Aí vai a ode:

“Ah, os piratas! os piratas!
A ânsia do ilegal unido ao feroz,
A ânsia das coisas absolutamente cruéis e abomináveis,
Que rói como um cio abstrato os nossos corpos franzimos,
Os nossos nervos femininos e delicados,
E põe grandes febres loucas nos nossos olhares vazios!

Obrigai-me a ajoelhar diante de vós!
Humilhai-me e batei-me!
Fazei de mim o vosso escravo e a vossa coisa!
E que o vosso desprezo por mim nunca me abandone,
Ó meus senhores! ó meus senhores!

Tomar sempre gloriosamente a parte submissa
Nos acontecimentos de sangue e nas sensualidades estiradas!
Desabai sobre mim, como grandes muros pesados,
Ó bárbaros do antigo mar!
Rasgai-me e feri-me!
De leste a oeste do meu corpo
Riscai de sangue a minha carne!
Beijai com cutelos de bordo e açoites e raiva
O meu alegre terror carnal de vos pertencer.
A minha ânsia masoquista em me dar à vossa fúria,
Em ser objeto inerte e sentiente da vossa omnívora crueldade,
Dominadores, senhores, imperadores, corcéis!
Ah, torturai-me,
Rasgai-me e abri-me!
Desfeito em pedaços conscientes
Entornai-me sobre os conveses,
Espalhai-me nos mares, deixai-me
Nas praias ávidas das ilhas!

Cevai sobre mim todo o meu misticismo de vós!
Cinzelai a sangue a minh'alma
Cortai, riscai!
Ó tatuadores da minha imaginação corpórea!
Esfoladores amados da minha carnal submissão!
Submetei-me como quem mata um cão a pontapés!
Fazei de mim o poço para o vosso desprezo de domínio!

Fazei de mim as vossas vítimas todas!
Como Cristo sofreu por todos os homens, quero sofrer
Por todas as vossas vítimas às vossas mãos,
Às vossas mãos calosas, sangrentas e de dedos decepados
Nos assaltos bruscos de amuradas!

Fazei de mim qualquer, cousa como se eu fosse
Arrastado - ó prazer, o beijada dor! -
Arrastado à cauda de cavalos chicoteados por vós...
Mas isto no mar, isto no ma-a-a-ar, isto no MA-A-A-AR!”

Aldemar Norek disse...

Oi, Eli, td bem?
pra não perder o hábito vou dar pitaco....rsss.
colocaria (Ah, os piratas.....obrigar-me) entre parênteses.
tiraria as vígilas de "Vem....", assim:
Vem - eu te peço-
fazer-me teu chão
teu traçado
teu desterro cândido
(assim é menos francês...)
ou com "eu te peço" entre parênteses tbm.
pq na prima estrofe não tem vírgula, entre outras razões.
mas é pitaco. se gostar, se concordar, ok. caso não, td bem....
gostei do poema e da referência aos dois.
beijo.

Eliana Pougy disse...

Vou acatar. Gostei!

Eliana Pougy disse...

Menos o cândido. Cândido foi um amigo muuito legal que tive na Fluir, fotógrafo de manobras de skate. Falou, brô!

Aldemar Norek disse...

valeu.
gosto de poder contribuir de algum modo.
beijos.
ps. qdo falei do "cândido", pensei mais na inversão "desterro cândido",q penso cair melhor, dar até mais força ao cândido. mas ficou bem legal assim como está , não?

Masé Lemos disse...

eliana

e esta obra, de quem é?

bjs

Eliana Pougy disse...

Da Edith Derdyk, também. Sou fã dessa mulher.