1/03/2007

Dissonância Cognitiva (Segunda Versão)

Espocar da champagne
Jogo de cristais braracnídeos
O terno é a farda
Ternura de papel crepom
Cabelos tingidos: azul, laranja,
Vermelho, as belas pernas
Da vestal do salão, filha do Magnífico
Brilho de pedra verde entre dentes
E frutos do mar.
Ao som de gatinha manhosa
Não restam mais dúvidas:
Você venceu, está dentro
Está por dentro, e logo logo adentrará
Ainda mais fundo nos meandros deste mundo
Quem sabe um café depois do baile
O velho dorme cedo e não ouve nada.

Começa a valsa, a doce voz de Rod Stewart
Em preto e branco, um flash back:
Você na merda literalmente
Limpa a privada com a língua
Arrasta a cara no tapete de sisal
Apaga cigarros com a sola do pé
Oferece a palma da mão a um campeonato
De melecas superiores
Rasteja no chão lagartixa, alguém recita o Levítico
(Tudo o que rasteja é impuro)
Mais uma sessão de afogamentos
Sempre aos berros
Amarram um tijolo num fio metálico
E o fio no seu saco
E ordenam que escale o muro
O imenso muro cheio de musgo
Com um desenho do mapa da Rua do Ouvidor.
É isso ou a morte, ou um beijo na testa
Com a boca cheia de bosta do Supra-sumo
Indizível prêmio.
Você chega ao alto e sorri aliviado
O fio foi cortado –
Hoje tem baile de formatura.

Voltam as cores, o baile na sede da Academia:
Deve haver um propósito
Nesta vida, você está certo
O mundo secciona um antes um depois
Você sorri com as herdeiras dos sábios de Sião
Às vezes uma sensação estranha no saco
Ano que vem vem a desforra
Não foi de graça que você estudou tanto.

4 comentários:

Aldemar Norek disse...

gostei do poema, apesar de não entender onde quer chegar um certo "maniqueísmo" ligeiramente deslocado (ou li errado?).
no entanto, tem certas coisas que, talvez, se desencaretassem (tipo: "as belas pernas da filha do general") elevariam a tensão do poema.
Adorei a meditação "deve haver um propósito nesta vida" perdida ali no fim do poema.

Daniel F disse...

pode ser que tenha esse maniqueísmo, vou pensar. é, ou era pra ser, um poema sobre trotes em geral, rituais de aceitação em instituições fechadas. Vale pra militares, universidades, essas coisas. O laureado depois de comer grama e a gratidão que ele sente e a vontade de também "trotear" (não sei existe o verbo...rs).
O poema não deu uma idéia disso? Então acho que falhei... Abraço!

Aldemar Norek disse...

é que me acostumei à idéia geral de hermetismo do que vc escreve, Daniel. Pra ser sincero só fiz esta leitura depois da sua dica. Mas não invalida o que falei antes...
abração

Aldemar Norek disse...

ficou legal a versão, Daniel.
e gostei das herdeiras dos sábios de sião....engraçado....rs
abração
aldemar