3/01/2007

Eu, me e mim

<>Querida, vamos começar um poema sem eu, me ou mim. Sem que as palavras coordenadas em minha fome levem as coisas ao colapso, hiperaquecidas pela ação digestiva. Pode ser sobre esta areia que agora piso e se apega fina aos pés (não tão fina a ponto de se opor como um pó compacto como o talco por exemplo). Ainda aqui sei que estou naquilo que sinto – mas já estamos ao menos tentando. A objetividade é uma conquista depois que meu amor sugou o mundo (continua sugando).
Aprender a dizer as coisas não como escravas da voz – olhos são efeitos do que tem o poder de ser visto, mãos são fruto das coisas tocadas. Somos feitos nos moldes do mundo, sem sopro, sem choro nem vela. Não se trata do puro objeto, da mera coisa areia, mas da areia que pisamos e sustenta o curso das palavras quando conversamos sobre a temperatura da areia. A objetividade do nosso poema falará de um lugar a ser reconhecido. Um lugar aonde temos que voltar adiante – um antes que está depois das palavras mas não se fecha como um círculo, esqueça nossa vâ geometria.

<> Minha musa ridícula, você fala demais. Precisamos nos estender no mundo como um tabuleiro, para o jogo lúcido das fichas coloridas.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Os limites entre sujeito e objeto. Onde está a poesia? De que prisma (direto ou tergiversante) ela nos olha?
ps.: mas eu daria uma enxugada estratégica no poema, cortaria palavras, sem prejuízo do sentido, acho.
abração