De grife na pracinha
Escorregadios como salada
De pepino à meia noite
Quando os vejo não sei o que sinto
Inveja, desprezo, saudade ou horror
Posam para os paparazzi que os acompanham
Porque tudo é a mesma merda
Caderno Teen ou Ilustrada
Como quem passou a noite chorando no banco de trás
Do velho cadillac
(Ou seja: andaram vendo novela demais).
Pois eu digo, conheci com estes olhos
Que a terra há de chupar
Os últimos rebeldes on the road.
Ou melhor, mais de perto só conheci um mesmo.
Ele já atravessou a parede do quarto
De verdade, literalmente.
Conversou com Cid Moreira
Durante o Jornal Nacional
O que eles falaram, tenho certeza
Seria o Messias arrombando a porta da história
Se alguém tivesse ouvido.
Ele realmente nunca teve dinheiro
Nem soube usar as tatuagens e o inconformismo sincero
Para posar de maldito udigrudi da Folha de São Paulo
O máximo que obteve
Em sua carreira artística foi uma breve passagem
Como afinador numa fábrica de guitarra
Sem carteira assinada.
Ele é tão rebelde que se eu disser para ele
Que ele é rebelde
Ele vai ficar muito puto comigo
Afinal já dizia Raulzito hoje em dia qualquer idiota
Pode ser um cabeludo.
Ele é malquisto nas festas natalinas
Pela família que vomita nozes na noite feliz
Como se o menino Cristo repousasse num presépio
De maconha.
E como todo rebelde que se preze
É idolatrado pela avó.
De prosaísmo
Pensei num lance meio melodrama
Como: vejo o último rebelde sumir na estrada
Sem epitáfios, sem homenagens nos semanários culturais
Ele não é exemplo para ninguém
É a imagem mais pura do fracasso
O fracasso com toda sua pureza
A imagem mais pura da bondade e da maldade
Aquela maldade absoluta e pura das crianças
Mas que fere – e como!
Vejo o último rebelde partindo
Como o sol sangrando em minhas mãos
E sinto o calor das biografias infames
Votadas ao mais puro esquecimento
E sei que quando eu morrer sumirei com ele
Seremos enterrados ao relento
Sem lápide, o mato cobrindo nossas covas
Será como se nunca tivéssemos nascido.
E quero que se fodam todos os bem sucedidos
Estes pesarão como um pesadelo
Sobre a humanidade do futuro.
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