3/03/2007

Platão tinha muitos escravos

<>Dando alfinetadas nos dedos rosas da aurora, Platão tratava Górgias como vil mercador: o malandro trocava discurso por moedas.

Platão tinha muitos escravos.
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Os dois eternos rivais, o de olhos curtos de pomba e o de grande omoplatas de orangotango, numa coisa concordaram: o discurso emerge e se contrapõe à pura voz grotesca de dor e prazer. Escravos têm voz, não discurso. É do corpo que vem a voz, é do corpo que brota a escravidão.

Deuses não: deuses fazem fotossíntese.

Abocanhando o atraso dos desraçados (no dizer de Mário de Andrade), modernistas anunciaram em Klaxon o escritório fábrica de sonetos na propriedade de Pantósofo. Tudo isso é muito velho. Klaxon era a buzina anunciando que nunca fomos tão modernos, e brasileiros. Modernistas não negociavam (economicamente) poesia.

Modernistas tinham muitas fazendas.

No comércio sujo em que o que está à venda é o vigor do corpo, a energia que faz do sopro pulsar uma voz, que tensiona os dedos sulcando a tela de palavras, filósofos e poetas (dignos desse nome) nunca se venderam.

Sempre foram compradores.

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