8/07/2007

O Real

somente o frio
é real

estou colocando
as meias
para o futuro

os sapatos
às bocas
do véu negro
do céu

minha cabeça
lenta
chapada ou anestesiada

não vive
para contar
a história

os sapos morreram
nos entulhos
dos fundos
da casa

desconheço minha casa
muitos livros
nos sebos

alguns na estante

raros no coração

a mente estraçalhada

minha heroína
não vem.

nunca veio,
não sei.

2 comentários:

Aldemar Norek disse...

Gostei da estrofe "estou colocando/ as meias/ para o futuro" - mas ela me dá a idéia do poeta burguês, um que só dorme de meias (não que durma "só" de meias...rs), meio conformado com esta derrocada geral que você menciona no poema ("a mente estraçalhada") e sem tesão pra ir à luta, só expectando e esperando ("raros na estante" e " minha heroína/não vem") com uma consciência agura da incapacidade ("minha cabeça/ lenta/chapada ou anestesiada"). Gostei tbm do uso do vocábulo "chapada" e da menção aos sebos.
Esta crise toda fez um bom poema.
abração
aldemar norek

Aldemar Norek disse...

Resumindo: li este poema como uma fala de geração, de tempo, de linhas de força. Não sei se me fiz entender....
abraços