8/12/2007

Sampa

acordo no meio da rua,
qualquer uma
das dez mil milhões de sujas
ruas paulistanas

um homem de terno azul
marinho e óculos escuros
e insígnia dourada na lapela
me olha fixamente

ele quer saber meu nome
e me segue por todas as quebradas
da cidade esquadrinhada.

ele quer saber de onde venho
e tem no bolso uma chave prateada
e no pulso um relógio cravejado de dentes.

ele espalha a própria voz pelas vielas
e pelos lustres de cristal do velho palácio
sussurra falando cuspindo via rádio
recitando poemas marioandradianos.

- nesta cidade imensa e nenhum sobrenome?
ele inquere.

eu desenho seu rosto
na calçada onde escorre mijo
em frente à banca de óculos de sol
- são mais de trinta óculos olhando
angulosos traços na calçada,
ao som de balidos da última balada
de elton john .

3 comentários:

Aldemar Norek disse...

De fato você dialoga grande parte do tempo com o MA, e por uma via negativa.

E concordo com aquele seu post na Cronopios que o melhor Mário-poeta é o do Tietê, o final, desiludido.

Daniel F disse...

Pra mim o problema não é o MA, mas o culto que se faz a ele em alguns lugares de Sao Paulo. Dele, gosto muito dos últimos poemas e dos últimos contos. O engraçado é que ele não gostava, queria chamar os Contos Novos de Contos Piores. MA tinha alguns receios com a "literatura".

Aldemar Norek disse...

Não tenho muita idéia deste culto em São Paulo em cima do ícone MA.
Minha relação com ele é boa, bem boa, até porque não faço a análise política dele (aquela adesão - necessária?- dele à nata da burguesia de então não me agrada mas não me interessa muito) - o que mais gosto no Mário são as cartas, estou com vários volumes dele de cartas aqui pra ler, na medida em que minha falta de método e minha dispersão permitirem. Ah, sim, e do último Mário tbm, o derrotado.