11/03/2006

Post Mortem














Seu corpo de cobra escolheu fugir
das mãos grossas e dos olhares pesados
dos lobisomens urbanos enfeitados
de criança.
Seria fácil concordar.
Suspirou, ao enroscar-se aos troncos e galhos
das árvores que ainda enfeitavam o local.
Viu que era aquilo o que tinha restado da vida
engendrada pela sua geração.
Um dia, tudo vai esquentar tanto que o mar vai virar nada,

segredaram-lhe as folhas de papel.
Ela olhou amarelo e sorriu.
Pensou nas falas de Bertolt Brechet:
Destas cidades ficará quem as atravessou, o vento!
Por fim, deixou-se ir, de olhos abertos.


Um comentário:

Aldemar Norek disse...

esta angústia de geração é muito pesada, não é?