Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
12/23/2006
Desconstruindo as Cartas ao Papai Noel (cut up)
A dinâmica das epístolas dedicadas ao Papai Noel, tradução livre do nome Santa Claus, que por sua vez é inspirado em São Nicolau, o bom arcebispo que em pleno século IV jogava sacos de dinheiro nas chaminés dos necessitados, nos faz pensar sobre a relação infância-culpa. É paradoxal que assim seja, por dois motivos, ao menos. Primeiro porque o que gera os mais profundos sentimentos de culpa é o descumprimento, ao longo da vida, dos padrões simbólicos de comportamento adquiridos na infância, pelos mitos de bondade, honestidade, coragem, altruísmo e demais modelos transmitidos pela mística natalina. Em outras palavras, salvo exceções, para ser socialmente bem sucedidas as pessoas no mínimo têm de abandonar o sistema de valores infantil, amadurecendo, pois para vencer é importante saber comportar-se como adulto e as que fracassam devido sua fraqueza na competição, muitas vezes devem o insucesso à infantilidade e é por continuarem sendo infantis que, em virtude dos próprios valores infantis, sentem-se culpados – culpados daquela culpa universal. Segundo porque aqueles que sejam tão seguros de seu sucesso social, a ponto de não saberem sentir culpa, não importa o que lhes suceda, para atingir tal ápice, ou como conseqüência de lá terem chegado, houveram por necessidade deixar de ser crianças, tornar-se adultos, adotando o código de ética dos vencedores que de ético, na verdade, normalmente, quase nada tem. Mas, não fui eu que me ensinei a maior parte das coisas que aprendi. Não matei Jesus. Jesus não morreu por mim. Minha morte continua a me esperar. E para os que, mesmo assim, ainda se interessam pelo assunto, aí vai o endereço do bom velhinho: Santa Claus - FIN-96930 Arctic Circle - Rovaniemi - Finlândia.
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3 comentários:
Excelente reflexão! É isso mesmo. Me lembra uma historinha da "Supermãe", do Ziraldo:
[Supermãe olhando várias cartinhas que o filho fazia quando era criança: "Mamãe querida, quando eu crescer vou estar sempre ao teu lado" "Mamãe, vou ser bom sempre com você e te proteger" etc.]
Supermãe - tá vendo, Carlinhos? olha que coisas lindas você me escrevia, e hoje em dia você passa dias sem me ver, nem liga pra mim...
Carlinhos - mãe, agora eu sou um adulto, responsável, não é mesmo?
Supermãe - Isso mesmo! Res-pon-sável!
Carlinhos - Então! Como é que a senhora quer que eu continue cumprindo as promessas de um menino??
Hahaha. Mas, Lois, não escrevi uma linha sequer disso aí. É um cut, um copy past da net: wikipedia e esse link: http://www.adroga.casadia.org/news/desconstrucao_da_culpa.htm
E daí? Como se você não soubesse que autoria pra mim é manga de colete ;)
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