5/10/2007

DR. JECKILL & MR. HIDE & ALICE & SHREK & LARRY & MOE & …

(tela de Ludovic Debeurme)

sou sempre a Véspera e, ao amanhecer,
suporto a Noite que me é também;
desencontrado entre não-ser e ser
parei num ponto que não vai e não vem.

quando no espelho vejo envelhecer
meu rosto e então o que se vê é alguém
que ainda não conheço, que dizer
de já não ser mais eu e estar além?

como se fosse um Abismo sem fim,
me nasce outro de mim e outro depois
e outro depois até o infinito...

quem poderá desabrochar em mim,
se cada rosto se desdobra em dois
e a voz se perde entre Silêncio e grito?

3 comentários:

Daniel F disse...

ALdemar, o título do poema é novo, veio depois? Porque ele indica uma ironia e um tipo de escrita que não aparece no soneto, ou é impressão minha?

Aldemar Norek disse...

pois é, Daniel....nasceram praticamente juntos. Talvez a maior ironia seja esta tensão mesmo entre o título e o corpo do poema, já que o corpo do poema passa a sr inseparável do título, ou se olharmos deste forma.
abração

Daniel F disse...

Oi Aldemar, sobre o lance de não escrever sozinho, é que acho que se tem uma coisa positiva e que pode vir a dar num lance legal naquilo que escrevo é a dissonancia, a tensão entre vozes estranhas no texto (e isso também serve no meu trabalho de história). Por isso, algumas vezes até abro a porta pro outro, por mais vulgar que ele seja. Acho que estou escrevendo coisas líricas, mas não no sentido do romantismo, em que o lirismo era a voz do Sujeito. Não sei se estou sendo claro, é um tipo de necessidade vital que aparece na escrita. Ás vezes sofro bastante com isso, mas ainda acredito, orgulhosa e arrogantemente , que isso me tornará mais forte.

Opa, e sem entrelinhas: vulgar não no sentido epistolar que usamos, aqui tem rolado outro tipo de conversa.

Sobre o título e o poema acho legal que exista uma tensão entre os dois, mas talvez o poema poderia incorporar, mesmo que bem sutilmente, essa tensão, se não fica parecendo um jogo meio forçado

Abraço,


Daniel.