11/08/2007

nº 64




O Abismo é você. São poços
profundos, sem fundo, que você
enche e esvazia de tristeza, desespero,
amor, esperança, desesperança, alegria,
solidão, entre afogamento e
asfixia. Ainda que sem fundo, tudo
parece transbordar a certa hora, aquela
em que as mãos deviam poder se cravar
bem no centro e rasgar o invólucro do peito.
As mãos são frágeis e não podem mudar
destinos, elas se iludem ao fabricar
artifícios, se iludem moldando vasos, tirando
som de cordas tensas, riscando
versos, acenando, acariciando – elas são frágeis
e não podem nada, nem rasgar o peito até
a bomba que pulsa por detrás, o que seria
o único suicídio bom e justo, rasgar-se
sem o recurso de qualquer artefato.
Resta então resignar-se à sua cota
de dor e admirar a ilusão dos outros de que
o Abismo é distante, lá onde desapareceram
embarcações e monstros, além da linha
do horizonte - ou então
é o vazio depois da última estrela.


(das Notas Marginais)

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