Dicionário (s.m.)
Todo mundo escreve um ao longo da vida, mesmo que não utilize qualquer tipo de caracteres convencionalmente entendidos como escrita. O que muda é a quantidade de certezas (leia-se: mentiras) em que se acredita e o estilo da prosa. Os dicionários que explicitamente ostentam este rótulo são os mais enfadonhos e presos a coisas nem um pouco importantes. Quase nada é importante.
Mapa(s) – (s.m.)
São registros de impressões, através das quais você tenta articular uma lógica para os caminhos que percorreu, com maiores ou menores danos. Mas não tem lógica mesmo. Assim como as órbitas constroem a falsa sensação de ordem e não passam de elaborações de um desejo de fixidez que sua mente (ou seu corpo) produz para não arrojar-se em definitivo pelos vazios que se sucedem infinitamente. Os mapas podem doer como as fotografias, talvez porque tentem capturar um instante que flui nesta vertigem, e não adianta rasgá-los, eles se fixam em seus olhos como areia. Os mapas podem doer porque trazem pedaços da geografia, representam lugares onde você ficou como um detrito e ainda assim foi em frente, a despeito dos pedaços pulsando sobre o pavimento.
Novo (adj.)
Rótulo aplicado às mesmas coisas, repetida e sucessivamente ao longo da História, para iludir os outros de que se está criando algo diferente. Muitas vezes para iludir a si mesmo, o que é sempre mais fácil e rápido, mas não menos doloroso. No primeiro caso existem sempre motivações mais políticas (leia-se: poder) do que estéticas, embora sua cartilha nunca mencione a palavra “poder” ou mesmo a desqualifique (como algo não desejável). As poucas pessoas que de fato criaram qualquer coisa de diferente não ligavam pra isso porque tinham assuntos mais importantes e sérios a tratar e, talvez por este motivo, tornaram-se clássicos.
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