11/11/2007

Novo Pequeno Dicionário das Aproximações

Macaquear (vb.)
Prática adotada por indivíduos ou grupos na falta de imaginação, talento ou coragem para coisa melhor. Muito praticada nos centros de saber das periferias. Nestes casos o sujeito, diante de algum pensamento fascinante que lhe chegue engarrafado de outras praias (de preferência as do centro, mas não necessariamente) experimenta uma sensação extática e vê seu pensamento realizar circunvoluções em torno de si mesmo ao som de um mantra (“É na boquinha da garrafa/ é na boquinha da garrafa...”) e desce em conformidade com a lei que rege os corpos mais pesados que o ar. Alguns se contentam com a simulação do ato, outros necessitam dos estímulos do gargalo em regiões mais cheias de florações nervosas do próprio pensamento e há também os que entubam tudo vorazmente. Não que sexo anal não possa ser praticado de outras maneiras, mais criativas, prazerosas e românticas, até porque o romantismo e a dor são territórios muito próximos e às vezes em tudo coincidentes; mas para isso desaconselham-se gargalos. Ainda sob o influxo do êxtase que ocorre neste momento alguns cantam “allons enfants de la Patrie, le jour de gloire est arrivé...”, ou “we are the champion, my friend...”. Alguns balbuciam “eu sou a filha da Chiquita Bacana, nunca entro em cana porque sou família demais”, mas na hora do sapeca iaiá adicionam a este sampler um esquema rígido de citação onde importam até as maiúsculas e minúsculas de uma forma que a forma se torna mais significativa que o conteúdo (que por vezes nem existe mesmo), ou seja, o macaquear em estado supremo como em geral o praticam os Idiotas Absolutos. Aí é o fim definitivo da ginga ("você tem que fazer o pensamento dançar..."). No meio dos bandos de macacos às vezes um se destaca, como é o caso da macaca que deu com uns cocos na areia da praia vizinha à mata onde morava e descobriu que se quebrasse a casca e rebentasse a sapucaia chegaria à carne branca e tenra lá de dentro. Este destacar-se eventual pode servir apenas à perpetuação da espécie, o que é um desejo do impossível, obviamente. Nunca se percebe que a água do coco, a seiva, se perde na areia quando ele é quebrado deste modo. Uma característica importante quando se formam grupos afeitos a esta prática é o estabelecimento de um dialeto que forme uma parede dura e espessa onde está escrito: “Não entre, boçal!”; é melhor não entrar mesmo. Este que rabisca as presentes linhas, se for macaco, com certeza é um macaco-prego. Porque prego não bóia, afunda. Atentar que macaco e merda não são a mesma coisa, embora possam se parecer às vezes sob algumas condições, ou até serem a mesma coisa, apesar do que foi dito anteriormente, provavelmente em causa própria. O macaco-prego, mesmo quando é um merda, afunda, comprovando novamente que mesmo as coisas absolutas são relativas.

Nenhum comentário: