Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
10/06/2006
O Plantador de Línguas
Entrava no dia com seu lema:
“Não tenho sêmen de barata”.
Deitava-se no jardim
Que ele mesmo plantara,
Jardim de línguas muito vermelhas,
Úmidas, em constante movimentação,
Silenciosas.
Um jardim sem olhos,
Na pacata cidade de Lanciano.
Ficava ali rolando pelado sobre as línguas,
O solo de musgo era mesmo relaxante.
Com o corpo cheio de cuspe,
Brilhando como vitral de igreja
Recitava sua oração de antes de dormir:
“Pentelho molhado
Cuzinho rosado
Bucetinha conchinha de caramujo!”
E se dissolvia no lodo primevo,
Primaveral.
De noite, em cama supermacia,
Repleta de almofadinhas, ao ar livre,
Ao sabor do orvalho agridoce:
Cada gotinha era um espelho em que ele mergulhava
Tão fundo até se virar do avesso.
Em suas mãos, a hóstia virava
Um vivo pedaço de carne rosada e fibrosa,
O vinho, o mais puro gosto de sangue.
(E tudo isso se deu por volta de 700 d.C.,
Estão de prova o doutor Edoardo Luioli
E o químico Ruggero Berteli)
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