Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
10/12/2006
Pelos Cotovelos
Maria Bentham, o histrionapólogo inventor do Panópitco, senta-se diante de um potente datashow, dirige à audiência 4 olhares severíssimos. Bebe de gut-gut um copo de água salgada. Proclama: hoje vou falar a vocês sobre o silêncio, coisa que vocês precisam aprender!
No mundo já se fala demais.
Então, pra que mais palavras?
Não bastasse o vozerio,
O blablabla, o tititi, o nhenhenhen,
Milhares de palavras amontoadas nos jornais
Na internet, na tv, na sala de estar,
No mercado histérico, nervoso
De tanto que o dinheiro fala
(E o dinheiro, de fato, fala pelos cotovelos)
As múltiplas réplicas e tréplicas e tetréplicas
Plim, plum, plam, plem, plim!
As palavras, não são muitas?
O rumor, bicho estranho cheio de olhos
E línguas?
A tagarelice, imenso poleiro de galinhas?
Vê se te cala, féla da puta!
Quando fala, tua existência é bruta.
O tamanho do peixe graúdo
Se mede pelo acúmulo de substantivos
Os ursos
São a substância gordurosa dos adjetivos.
Não bastasse o grito dos pardais,
E você inda quer falar um pouco mais?
Vê se engole minhas cobras e lagartos
E rumina um pouco antes de levantar o braço
Bicho descontrolado que não se cala!
E pensar que você quer levar o rumor à lua
A Marte, a Saturno, esquinas da minha rua.
Silêncio! Eu quero teu silêncio
Como um bigbang se explodindo para dentro!
Longe, bem longe da foz da minha voz absoluta.
Deixar teu grito em cárcere privado.
Calado, calado em meu peito de tenor.
Como se meu olhar octogonal não bastasse
Pra repreender,
E ser visto não te levasse
Ao centro mudo da tua consciência?
Mudo mas de ouvidos bem atentos, ouviu?:
A bom entendedor meia chibata basta!
Você ainda duvida? De quê?
O que mais tem a dizer?
O que, pra quem, pra quê dizer?
Silêncio, eu disse silêncio!
Silêncio! Nem que eu tenha que me esgoelar
Eternamente silêncio!
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2 comentários:
Arrancar as línguas....SILÊNCIO...às vezes me sinto assim....
INVADIDO..INUNDADO..por essa montanha de sons...barulhos..falas...tão bem retratados...no texto...
SILÊNCIO............
Depois que li seu comentário percebi que essa leitura era possível. Eu também me sinto às vezes assolado pela tagarelice. Mas na verdade não gosto muito da maneira como Maria Bentham se expressa sobre a coisa, porque no fundo ele não quer silêncio - o que ele quer é ser o único a falar. Maria Bentham e suas florações: candidatos, certos professores, certos críticos literários etc etc.
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