9/25/2009

A flor do pequi e as crianças

É primavera
Vem o sol e vem a chuva
E os pingos da chuva a cantar cintilantemente

É primavera: o amor se mostra
Vem a nuvem e as flores
E os pingos de doces lágrimas

Uma criança a sorrir
Uma criança a nascer
Uma criança a brincar
Uma criança a dançar

Ela brinca de jogar para o alto
Ela brinca com o alto
E com a força que vem do alto

Ela joga a flor do pequizeiro
Ela brinca com a flor que cai
Para o fruto desabrochar

Ela brinca de ser feliz

9/17/2009

Welcome Mr Ego

1. O meio é a massagem.

2. A falta de classe
é o motor da história.

3. O eu não é senhor
No seu condomínio fechado.

4. Sun Tzu e Bill Gates
subindo a ladeira.

5. Walter Benjamin era um sujeito
Diferenciado.

6. Um cantinho
e um violão.

7. Um laptop
e a Arte da Guerra

8. Um estilo
e um reconhecimento.

9. Uma casa
no second life,
um avatar,
um cartão de crédito
e nada mais.

10. Um tipo assim na mão
E um otimismo na cabeça.

11. É sempre bom lembrar
Que um pastel vazio
Está cheio de ar.

(depois de ouvir Gilberto Gil na propaganda do Pão de Açúcar)

12. etc etc etc

9/11/2009

Geometrias vazias

Linhas, ó linhas,
Por que não sois curvas?
Alinhar-se
É pavoroso.
Não gosto de retas,
Elas são o caminho mais curto
A lugar nenhum.
Não gosto de círculos
Que perambulam
E não saem do lugar.
Triângulos são difíceis
De entender:
Não sou Pitágoras,
Mas acho que um triângulo –
Por mais que seja retângulo –
Não é perfeito
E não termina bem.
Não gosto de quadrados,
Todo quadrado me parece
Ressentido por não ser
Uma magra linha.
Se eu pudesse apenas
Seguir cegamente
As curvas
Do meu pensamento,
Do meu devaneio cambaleante,
E parar num ponto
Geométrico.
Mas o ponto geométrico não é
O encontro de duas linhas?
Melhor não ser ponto.
Quem sabe ser um
Icosaedro escaleno, irregular e curvo,
Sem linhas, pontos ou pontas?
Ah, acho toda esta geometria
Um grande vazio.
Vou descansar...

9/09/2009

A orquídea finge ser
Jesus plastificado
Como um galã esquecido
Dos filmes de sábado à noite,
Com o charme dos fumadores de haxixe,
Num convite estendido
Na pintura desbotada, azul.

A orquídea se faz passar
Por um bêbado que se emociona
Em lágrimas de cerveja
E se esquece da severidade imposta
Pela vida de imigrante e office boy
Ex-morador do zoológico de Brasília.

Atônitas, crianças
Que medem a distância das estrelas
Correndo com lanternas
Lêem Mein Kampf nos bueiros,
Livro em que a palavra
Deus é repetida mais de vinte vezes
Pelo autor que só tinha um testículo
(As crianças precisam atestar
O mal frente à inocência
Despetalada a cada dia):

As orquídeas colonizaram o mundo
Por meio de disfarces:

A imitação imperfeita
Das flores
Desdobra primaveras.