8/24/2014

Como são gentis os mortos,
Principalmente os jovens

Os que morreram antes de qualquer mácula.

Como são doces as lágrimas
De auditório por todos aqueles que morreram
Comprovando nossa perdida ingenuidade.

Mas não quando seus ossos
Emergem na violência das ondas.

Não quando seus cabelos
Brotam nos jardins.

Não quando seus gritos
Atravessam larvas nas paredes.

Não quando pombas de olhos vermelhos
Pousam sobre os filtros que limpam nossas águas.

Sempre os mesmos.

8/10/2014

na cidade industrial



o anjo se arrasta
pela calçada e sonha com a ruína
da cidade industrial enquanto mede
com os olhos vermelhos a distância
e a trajetória do voo impossível
até o Paraíso onde queima a sua alma
inexistente como o azul da voz que ecoa
em sua asa amputada. A ponte
que leva pra dentro tem chão de vidro
moído e ele escreve com passos e sangue
as palavras que suas asas riscariam
nos céus – é mais fácil medir o chão
imaginário e por isso sempre
mais letal, mas não se deve olhar
pra trás e tentar ler as palavras
cor de vinho que vazaram sobre o pavimento
feroz porque a asa
que sobrou arrasta suas penas e borra
a tinta antes que o sentido
evapore. Entre
despejos, catástrofes e flores febris, a asa
solitária é um aleijão, inútil
como  poemas que cicatrizam
na pele da memória enquanto
anoitece, iluminuras
que acendem com seus códigos
as luzes das avenidas.