3/28/2007

Vaidade sobre vaidade

O busto de Carlos Gomes entra no táxi reclamando da falta de humildade de seus amigos. O taxista interrompe:


“O moralismo anda bem das pernas, egoísmo é confundido com mesquinhez. Mas ouça bem meu chapa, o corpo acontece de dentro para fora, não está virado para dentro. Hoje parece que toda discussão quer ir para as profundezas invisíveis. Radiografia, ultra-sonografia, tudo isso traz o de dentro para fora mas como coisa incolor. Tudo indica: por dentro o corpo não tem graça. Aquelas microcâmeras que entram nas veias também estão por fora, a cor pode até estar oculta na ausência de luz, como animais marinhos bem no fundo, mas você morre de frio em busca do invisível. Querem te enrolar na idéia de que seu corpo é carapaça, mortalha nojenta cobrindo a verdadeira verdade interior: fazer do mundo tripas-coração. Mas é tudo o contrário, já está provado por cientistas da farmacologia utópica: coisas nojentas como tripas e profundamente escrotas como um coração existem em função das aparências. Tudo o que pulsa na impressão de dentro tem um único sentido: para fora, a luz, o encantamento. Como por dentro você não passa de espiral em ascensão, é exatamente isso o que a natureza fez de você: vaidade. Vazio interior circundado por belas aparências. Do mesmo jeito com a sua voz: é um lance sensorial que assalta o mundo (ouvir tem essa vantagem sobre ver: ver demanda atenção, você pensa que manda nos seus olhos, mas orelha não tem pálpebra). É isso então o que a natureza exige de você: que seja superficial.
Neste mundo de aparências, Deus está no contato das coisas. Seu nome é Éter, imatéria que cerca tudo e comunica os gestos ambíguos da menina diretinho nos seus olhos, aquela que diz sins e nãos, está lembrado? É como alguém disse: sol e chuva, parecem fantasmas as meninas de Campinas. Apesar da rima fora de hora, deve ser por aí, você precisa reaprender a rezar.
Agora veja: o problema dos shopping-centers não é o querer aparecer, mas a feiúra (sua falta de graça tem a ver com o desejo de possuir que traz a vontade de matar, anote aí, é a mesma arquitetura dos tanques de guerra). Aquela torre gigantesca sobre a qual gira um pássaro gordo verde-abacate não queria aparecer, é o superegomercado falando pelos cotovelos. Na hora de digitar a senha do cartão de débito, que tua mão esquerda não veja o que faz tua mão direita. E consumir é isso aí: assimilar as coisas, jogá-las para o invisível das suas tripas-coração. O consumidor é o inimigo das aparências, quer ver fundo o que se passa no coração do Big Brother, mergulhar-se, tornar o mundo tão insosso como aquela pasta de alimentos no estômago, matar tudo o que existe para depois morrer junto. Como tudo é superficial, quando você consome é isso que você é: uma espiral que deseja ser agradada, que só sabe dizer gostei e não gostei, que some, consome-se e quando morre mata as coisas, deixando nada sem antes ou depois.
As aparências não estão aí para o seu bel-prazer. Ser egoísta é uma arte.”


Carlos Gomes reclama que o taxista é inverossímil. Além de humilde, naturalista.

3/25/2007

nº 34



Entre a anestesia do mercado (véu,
cortina de fumaça) e a luta de classes
você desce do poema e reverbera
o som desta recusa para além da fixidez
das formas no centro de um Universo
em abismal trajeto, até chegar
a um sítio sem Tempo onde tudo
é carne e espírito imbricados, onde
tudo é dúvida e torpor e todo e qualquer verso
é só de circunstância.
(das Notas Marginais).

3/24/2007

Armazém 1848 (Epitáfio)

Aqui, neste portão enferrujado

Na calçada rachada entre o mato e pacotinhos coloridos de Elma Chips

Nadir, esquizofrênica, sofrendo de paralisia crônica (vinte e poucos anos de idade) na parte direita do corpo, vítima de mania ambulatória

Flagrada pelos Oito-Olhos (forjados na estratégia da caça nos tempos do Antigo Comandante e sua Horda) em atitude denotada vadiagem, encarcerada a pontapés, entubada à tuberculose na Colônia

Vomitou o vinho que prometia a redenção. O vinho verde da Ilha das Sereias. O vinho rubro das barricadas. O vinho barato e muito doce na utopia da multiplicação dos prazeres, a cada vivente potencializados por vinte mil vezes vinte mil Neros. O vinho amaldiçoado pelas máquinas de calcular perdas e ganhos, “Um prazer na mão e duas dores voando”

Aqui, neste armazém desolado, Nadir mandou sua mensagem final.

“Deus andou tomando todas
Orai, filhos da Divina Ressaca”

3/22/2007

Tha Last Rebel

Estes rebeldes
De grife na pracinha
Escorregadios como salada
De pepino à meia noite
Quando os vejo não sei o que sinto
Inveja, desprezo, saudade ou horror
Posam para os paparazzi que os acompanham
Porque tudo é a mesma merda
Caderno Teen ou Ilustrada
Como quem passou a noite chorando no banco de trás
Do velho cadillac
(Ou seja: andaram vendo novela demais).

Pois eu digo, conheci com estes olhos
Que a terra há de chupar
Os últimos rebeldes on the road.
Ou melhor, mais de perto só conheci um mesmo.

Ele já atravessou a parede do quarto
De verdade, literalmente.
Conversou com Cid Moreira
Durante o Jornal Nacional
O que eles falaram, tenho certeza
Seria o Messias arrombando a porta da história
Se alguém tivesse ouvido.
Ele realmente nunca teve dinheiro
Nem soube usar as tatuagens e o inconformismo sincero
Para posar de maldito udigrudi da Folha de São Paulo
O máximo que obteve
Em sua carreira artística foi uma breve passagem
Como afinador numa fábrica de guitarra
Sem carteira assinada.
Ele é tão rebelde que se eu disser para ele
Que ele é rebelde
Ele vai ficar muito puto comigo
Afinal já dizia Raulzito hoje em dia qualquer idiota
Pode ser um cabeludo.
Ele é malquisto nas festas natalinas
Pela família que vomita nozes na noite feliz
Como se o menino Cristo repousasse num presépio
De maconha.
E como todo rebelde que se preze
É idolatrado pela avó.

Para encerrar estes versos plenos
De prosaísmo
Pensei num lance meio melodrama
Como: vejo o último rebelde sumir na estrada
Sem epitáfios, sem homenagens nos semanários culturais
Ele não é exemplo para ninguém
É a imagem mais pura do fracasso
O fracasso com toda sua pureza
A imagem mais pura da bondade e da maldade
Aquela maldade absoluta e pura das crianças
Mas que fere – e como!
Vejo o último rebelde partindo
Como o sol sangrando em minhas mãos
E sinto o calor das biografias infames
Votadas ao mais puro esquecimento
E sei que quando eu morrer sumirei com ele
Seremos enterrados ao relento
Sem lápide, o mato cobrindo nossas covas
Será como se nunca tivéssemos nascido.


E quero que se fodam todos os bem sucedidos
Estes pesarão como um pesadelo
Sobre a humanidade do futuro.

3/20/2007

nº 33




Você pode ter soluçado na sombra
entre paixões descontroladas e uma idéia vaga de paraíso.
Você não sabe em que poço escuro (fenda estreita) depositou a fé
que ainda lhe resta ou em que grotão buscar a que (sempre) lhe falta
e especula, transido e hirto como já convém a um que acumula
os frios superpostos que os anos vão depositando sobre a pele,
a origem das estrelas e a fome do corpo,
entre a espuma da cerveja e as batatas sobre a mesa de mármore que reflete
o som dos risos e uns olhares furtivos daquela busca que nunca se encerra –
você especula, num lance, num átimo que passa súbito por entre os cantos vivos
das mesas, por entre os pés de quem passa também e segue, por entre
a lúbrica noite e suas rotinas e seu rol de espantos, mas
de dentro do espesso mundo em que você se encontra não emerge
nada.

Vertical ou oblíqua, é incessante e fria a chuva.
(das Notas Marginais)

3/18/2007

Gerações

Após a derradeira lata de cerveja
Oito-Olhos se ajoelha na sala
Sem camisa é o Centro
Das atenções.

Há séculos e séculos
Ele joga crianças no mundo
Dizendo a mesma prece:

Eu sou a Semente do Cansanção
Vocês são as bolhas que assaltam
A pele desavisada
Meu canto é o mijo que ameniza,
“É uma dor canalha que te dilacera” etc.

O vento arranha a janela
Joga no chão de madeirite
Uma porção de moscas mortas.

3/16/2007

Constatação

Não é a palavra exposta:
ressonância.
Nem a linha entrelaçada:
renda.

O que ecoa em mim,
o que me prende,
é aquilo que excede:
a entrelinha.

3/15/2007

Triunfo

Foi ali mesmo
Em frente à fábrica de biscoitos
Triunfo
A garota passou sorrindo nos óculos
De astronauta
E cuspiu a granada
Na outra boca.
Os estilhaços se espalharam pelo corpo
E surgiu este porco-espinho
Que vocês agora espiam.

(Ele antes perguntei
A dois amigos se dali
Naquela paisagem vermelho-escuro
Debaixo do mato no calor infernal
No fedor de bolacha de morango
Qualquer um poderia
Dizer com certeza se o outro lado
Do deserto
Existia de fato ou era miragem
E o primeiro apontou o indicador
Para a própria orelha
Girando no sentido horário
E o outro, o terapeuta Oito-Olhos
Lamentou a devastação do
Eu girando como água no ralo da pia, sempre no mesmo lugar
Inconformado no seu narcisismo
E sentenciou:
Guerra é continuação
Do narciso por outros meios)

Cheguei em casa na dúvida
Se o deserto das bolachas Triunfo ainda existia
Alguém perguntou no dicionário
Qual seria a melhor palavra para cruzar
A fronteira
Caminho, ponte, trilha, istmo ou passagem

A palavra estava morta
Na ponta da língua.

3/09/2007

nº 6




Rezava um verso, ele não era meu, mas raptava todo meu amor em seus enigmas,
mais que suas luzes seus enigmas e eu só pensava em roubá-lo, roubar
o verso e ir pra Calicute, Serendipity ou qualquer destino de nome impronunciável,
tanto que lhe impedisse o acesso às almas não iniciadas,
almas que batem portas quando passam, olhando a si mesmas
não vêem que delicadeza lhes estende um gesto. E por me disfarçar
na viagem, vesti o verso roubado até perceber que nele me tornara,
sua melodia na música de meus dias, seus silêncios em meu silêncio e
seu enigma em meus olhos. Agora, no meio do caminho,
Serendipity não existe, Calicute, ou que Oriente pra lá de nunca termos sido –
só esta lembrança do verso que rezava um mistério, e nunca houve mistério
decifrado –o mais é uma lembrança de peixes
aos quais nada importa, o futuro em que tornados fósseis
farão visada à poeira das estrelas
e seu olhar será apenas um oco onde se irá perscrutar imagens tão belas,
imagens belas, abissais e belas, e sal e areia
e espuma.




(das Notas Marginais)

3/08/2007

Hora do Rush

Com a lata de cerveja fabrico uma caverna
Pego o pedaço de arame e produzo um jornal de domingo
Junto o aquário e o cartão de crédito
Raspo a tinta da parede
Pego a tesoura e recorto a beira do cartão no formato de dentes
Corto o vidro do aquário com os caninos de crédito
Enrolo o vidro no barbante e jogo na caverna
Amasso o jornal ponho na caverna
Penduro tudo no teto com o pedaço de arame
Faço um telefone de não ouvir lamentações
Desenho as lamentações no chão
E taí de novo o jornal de domingo
Dobro o jornal formando um aviãozinho
Jogo pela janela com a tesoura

Oito-Olhos, soberano de Gotham City,
Observa o aviãzinho de jornal de vidro
Enquanto desço rapidamente pela escada de incêndio
Oito-Olhos passa com uma sirene na ponta da língua
E um capacete luminoso
Fico vermelho e enferrujado
Como a cadeira vermelha e enferrujada em que estou sentado

Escapo

Oito-Olhos está na central de controle
Me flagra de perto, bem perto
(Oito-Olhos inventou uma frase,
“Sorria você está sendo filmado”
E um sintoma
“Pulsão Escópica”)

Arranco minha pele e dela arranjo uma seda
E preparo para a moça ao lado, que passou pelas mutações aludidas:
Agora estou sendo fumado na caverna.
Pego o azedo do meu coração e faço uma caipirinha
Digo baixinho
“A verdade talvez mergulhe em sua doce embriaguez”

Mas Oito-Olhos nunca se cansa
E voltamos à estaca zero.

3/06/2007

A luta de uma pedra pelo sol desmaiado (tradução fonética do russo)

<>Veneza pena, nave cá
Já tive ipsilone viches capacete,
Na grande voz dura, rajada
Tive iate chá gávea barba burlesco axé
Vi acre menor giz nem <>

Catei raio nêspera azul o gás vi já tive achei a vi
Na estria xispa, chato reza liga alô,
Li madalena inverna rastro e iaiás...
Voto, música, é de vazar deves ananás anis,
Nariz sovaco pé e já, já telha.

<> Isca a jato vejo estadia late na blíblia ou;
Droga que ipanema nu toga, chuto raiz delete iate
Víbora chiii glacê tchau desinfeta morda espancai devote aqui
Praxe deixe mimo... Aqui tô dardeje nesga mete escol cá
Divina Geni, vestal, giz nem hei já deixá-la adeus.

3/04/2007

Драка камня для слабого солнца

Внезапно, на века
Застыв и прислонившись к пустоте,
На грани воздуха, рождая
Тысячи шагов барабурлящих
В огромной жизни.

Которая не сразу угасает в застывшей лаве,
На острие шипа, что резал и колол,
Лишь медленно и мерно растворяясь
Вот, музыка, едва задев сознание,
Нарисовав пейзаж, затихла.

Сказать всё это сделать небыль былью;
Дорога к пониманию того, что разделяет их
В больших глазищах цвета мёда испанской девучки,
Прошедшей мимо... А кто-то даже не заметит сколько
Движений, жестов, жизней задержалось здесь.
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Vnezápna, na veka
Zastýv i prislonivshis k´ pustote,
Na grani vózduha, rajdaya
Tysyatchi shagóv baraburlyáshtchih
V agrómnoy jízni.

Katoraya ne srázu ugasaet v zastývshey lávie,
Na astrie shipá, chto rezal i kalól,
Lish´ médlenna i merna rastvaryáyas´...
Vot, múzyka, edva zadev saznánie,
Narisovav peyzaj, zatihla.

Skazat´ vsio eta sdielat´ nebyl´ byl´yu;
Daróga k panimániyu toga, chto razdelyaet ih
V bol´shih glazístchah tsveta myoda ispânskay diévutchki
Prashedshey mima... A kto-ta daje ne zamêtit skol´ka
Dvijeniy, jestav, jízney zaderjálas´ zdes´.
____________________________________

A Luta de uma Pedra pelo Sol Desmaiado

De repente, por séculos
Debruçou-se a paragem no vazio
Por um lado quase ar, esculpindo
Milhões de passos burbulidos
Numa vida maior.

Mantém ainda a índole da lava
E um espinho que espirra e enclava
Mesmo após toda erosão serena
Ouvindo até música, como aquela,
Ao urgir a paisagem em revista, passava.

E contar isso é criar um acidente onde não houve;
É transmissão pra perceber o que a separa
Nos grandes olhos mel de uma espanhola
De passagem. E tem quem não note o quanto
Gestos idos se demoram por aqui.

+ 1 Dom

mais
um
domingo

barba
por fazer

futebol

visita dos
parentes
dela

não sobra
inspiração


expiração

respiração

transpiração

32 graus
de calor

não vi
o mar

mais
um domingo

lilás

morte lenta.

Aurora

Tirei as cartas da gaveta. Joguei fora protetores de ouvido, óculos escuros, cinturões. Fiz ir ao ralo os vômitos dos exageros. Já me esqueci das unhas arrancadas, uma a uma. Elas estão aqui, de novo. Queimei carteira de trabalho, diplomas, diagnósticos. Não ouço mais os sintomas.
Ah, o amor.

3/03/2007

Platão tinha muitos escravos

<>Dando alfinetadas nos dedos rosas da aurora, Platão tratava Górgias como vil mercador: o malandro trocava discurso por moedas.

Platão tinha muitos escravos.
<>
Os dois eternos rivais, o de olhos curtos de pomba e o de grande omoplatas de orangotango, numa coisa concordaram: o discurso emerge e se contrapõe à pura voz grotesca de dor e prazer. Escravos têm voz, não discurso. É do corpo que vem a voz, é do corpo que brota a escravidão.

Deuses não: deuses fazem fotossíntese.

Abocanhando o atraso dos desraçados (no dizer de Mário de Andrade), modernistas anunciaram em Klaxon o escritório fábrica de sonetos na propriedade de Pantósofo. Tudo isso é muito velho. Klaxon era a buzina anunciando que nunca fomos tão modernos, e brasileiros. Modernistas não negociavam (economicamente) poesia.

Modernistas tinham muitas fazendas.

No comércio sujo em que o que está à venda é o vigor do corpo, a energia que faz do sopro pulsar uma voz, que tensiona os dedos sulcando a tela de palavras, filósofos e poetas (dignos desse nome) nunca se venderam.

Sempre foram compradores.

3/01/2007

moral da história



estende o hálito da tarde sobre mim
dia suspenso
dia que perdi num lapso branco revestido por vermelhos avos
e emergido assim da treva em cores de marfim

há lápides no ar
extensos ritos sons dispersas iras
tal cravos de arlequim
e sorriso nenhum sossego
pânico nenhum
só me espargiu o travo desse dia resgatado ao desterro

não ir é o meu caminho
e a nula urgência e a falta de motivos
formam pacto comigo
estou só
e este dia é meu único abrigo.


Daniel na cova das cores

verdeazul

caminho
para o morro das pedras

branca espuma
dos dias

e dias
se vão no vermelho
crepúsculo
da angústia

negro rumo
de asas

marrons borboletas
do ocaso

tudo que morre
é lilás

e tudo que vive
é sem cor

como num filme
guardado

agora sei o
que sentem
os sem-olhos

que costuram
por dentro.

Eu, me e mim

<>Querida, vamos começar um poema sem eu, me ou mim. Sem que as palavras coordenadas em minha fome levem as coisas ao colapso, hiperaquecidas pela ação digestiva. Pode ser sobre esta areia que agora piso e se apega fina aos pés (não tão fina a ponto de se opor como um pó compacto como o talco por exemplo). Ainda aqui sei que estou naquilo que sinto – mas já estamos ao menos tentando. A objetividade é uma conquista depois que meu amor sugou o mundo (continua sugando).
Aprender a dizer as coisas não como escravas da voz – olhos são efeitos do que tem o poder de ser visto, mãos são fruto das coisas tocadas. Somos feitos nos moldes do mundo, sem sopro, sem choro nem vela. Não se trata do puro objeto, da mera coisa areia, mas da areia que pisamos e sustenta o curso das palavras quando conversamos sobre a temperatura da areia. A objetividade do nosso poema falará de um lugar a ser reconhecido. Um lugar aonde temos que voltar adiante – um antes que está depois das palavras mas não se fecha como um círculo, esqueça nossa vâ geometria.

<> Minha musa ridícula, você fala demais. Precisamos nos estender no mundo como um tabuleiro, para o jogo lúcido das fichas coloridas.