3/30/2009

Ítaca

Minha ilha, não mais a conheço
Já tive o gosto de voltar
Sem muito nela encontrar
Daquilo de que não me esqueço.

Mesmo assim, gosto de lembrar
Da minha ilha em que nasci
Ainda que nela não posso alcançar
Senão os sonhos do que nela vivi.

Minha Ítaca, meu sonho
Desfaz-se em ilusão
Toda vez que nela encontro
O vazio da solidão.

Até Penélope foi comigo
Viajar nos mares longínquos
À procura dos povos iníquos
Que sempre nos põem em perigo.

Se, um dia voltar à minha ilha,
Agora um pouco esquecida,
Trarei a emoção de um Ninguém
Cujo nome será lembrado no Além.

3/29/2009

Inventário




Meus versos são banais e eu negocio
um prazo a mais, um sentimento urgente,
mesmo que vá ficar inadimplente
e o coração acabe assim vazio.
Acreditavam ser a Terra plana,
que acabasse o mar de forma abrupta
e outras ilusões que a vida oculta
na palavra que salva, e na que engana:
a palavra rejeita a força bruta,
o capital, o mercado, e outras delícias
que o olho vê e o coração perscruta.
Ando correndo atrás do prejuízo:
não sei ainda de fato o que preciso,
de vinho, de ambrosia ou de cicuta ...

3/27/2009

Nós e as Portas

Portas fechadas, portas abertas
abertas só estão para os fechados
e estão bem fechadas para os abertos.
A maioria das portas que encontramos
estão fechadas, por mais abertas que pareçam;
falta-nos a coragem de procurar
entre os mais fechados
a saber se as portas lhe estão abertas.
Ou é preciso abrir novas portas?
Sempre é possível abrir novas portas
mas não será mais possível voltar
para as que estão e estarão fechadas
quando abrirmos novas.

Apocalipse Now, ou O Furor da Poesia sem Assinatura da Web

URGENTÍSSIMO...QUEM NÃO TEM TV POR ASSINATURA , PORFAVOR, REPASSE ASSIM MESMO,POIS PODERÁ AJUDAR A ABRIR OS OLHOS DE ALGUÉM: ASSALTO PROGRAMADO TV ASSINATURA e MSN. A criatividade dos nossos marginais chega às alturas. Agora estão enviando pelo correio, uma carta com papel timbrado DE qualquer canal de TVpor assinatura. Na carta, que por sinal é muito bemelaborada , onde diz que estão modernizando a sua tecnologia e que seránecessária a substituição deequipamento dentro da casa do assinante. DENTRO DA CASA DO ASSINANTE! Eles colocam um número detelefone (de um comparsa) para oagendamento. Se o assinante (PESSOA) não conhece ogolpe e não telefona para o verdadeiro número da Operadora de TV, paraconfirmar se isto procede mesmo, os marginais praticam o assalto em suaresidência com hora marcada e com você abrindo a porta e servindo umcafezinho e abrindo a tampa de sua privada pra que eles CAGUEM!!!.Viram onde chegou a ousadia dosbandidos?As próprias vítimas marcam o dia em quesua residência vai ser assaltada!!

SOBRE O MSN- MUITO GRAVE! Cuidado É muitoimportante!VC TEM MSN? ENTÃO.. ATENÇÃO!!!!LEIA E REPASSE COM URGÊNCIA A TODOSAMIGOS.Se você receber e-mail pedindo praatualizar o MSN para a versão 8.0 , não clique, pois é um vírus.E também, se alguém chamado KRMAZOV@hotmail.com quiser te adicionar no MSN, NÃO aceite. É umvírus que apaga em 3 minutos todo o HD.Conte a todos que você tem no seu MSNporque, se alguém na tua lista adiciona, você também pega o vírus.

ATENZIONE CON TUBARONE, CAPISCO?

3/26/2009

ars poetica - revista

1. diga logo o que você tem a dizer e saia.

2. se esta coisa toda não tiver a ver com o real, esqueça.

3. olhe ao redor, a partir do corpo.

4. diga "não há tal coisa" para o que não fizer parte do lixão.

3/21/2009








1.

Aqui jaz
Uberlândia, entre
Muros, em você
Na sua, o sol deixou
Rastros
Pintados na tinta fabricada
Com suor de fios elétricos –

Defesa eficaz contra gatos
E pássaros.


2.

Uberlândia é sua
Própria cova e os muros
Erguidos com areia
Do deserto e migalhas
De feixes de luz
Jogadas pela outra
Metrópole, a imensa
Cidade com que sonham
Os lagartos do cerrado,

Perfazem o enigmático
Desenho, entre labirinto
De amplíssimos corredores
E mausoléu.

3/17/2009

A Epopeia de Zé Pequeno

Zé Pequeno é apenas o nome de um personagem bem comum na vida cotidiana. Ele não aparece só nos filmes para mostrar aos EUA o estado de selvageria em que se encontra o Brasil. A selvageria está em vários lugares, até nos mais educados.
Zé Pequeno é um cara meio esquisito, que as pessoas não gostam. Parece estar sempre com um ou dois pés atrás com todos. Além disso, tem muito medo do que falam sobre ele pelas costas. Isso o torna um cara inseguro. Não é a loucura que leva as pessoas às atitudes mais absurdas. É a insegurança.
Quando falam da rebimboca da parafuseta, ele precisa dar sua opinião firmemente, para que ninguém pense que é um banana. Se alguém também tem uma opinião sobre a tal rebimboca, não se conforma – afinal, todo inseguro acha que o mundo conspira contra ele. Se estiver pessoalmente ao lado de alguém que tem outra opinião, que não a dele, é capaz de matar, trucidar, pisotear, esquartejar. Quando não está pessoalmente, gosta de insultar. Insultar por todos os meios covardemente disponíveis pela sociedade do espetáculo denuncista: e-mail, telefone, etc.
Zé Pequeno é seu apelido porque se comporta como criança pequena. Se é contrariado (e só o fato das pessoas existirem deixam-no contrariado), torce o nariz, vira a cara, passa reto. Quando sua opinião vence, nem que seja sobre a velha e surrada rebimboca, torna-se altivo, nobre, seguro. Não contente com sua pequena vitória, gosta de insultar mais firmemente ainda, para dizer que ele é um cara perigoso, macho, e que ninguém é páreo para ele. O futebol – pode ser também o esporte de chutar cabeças – é o seu esporte preferido, pois sempre existe alguém ou algo que se possa insultar, totemizar, rebaixar.
Por essas e outras qualidades, Zé Pequeno gosta de mandar. E muito. O poder é sua menina dos olhos. É incrível como sempre os piores desejam estar no poder. Talvez seja pela ilusão de que alguém realmente mande e que alguém realmente obedeça. Mas, o que é o poder? Ele pode ferir, bloquear, dificultar: matar, só se também acreditamos nele. No entanto, Zé Pequeno jamais entendeu que alguém não queira poder, alguém que queira ser livre, que não queira medir a todo tempo a distância do cuspe. Todo aquele que diz não ao poderzinho que ele tanto gosta, deixa-o sem chão. Mas é bom tomar cuidado: quem faz isto pode levar uma facada pelas costas quando menos imagina.
Quantos Zés Pequenos você conhece?

3/09/2009

Crítica literária FBI

“William Carlos Williams faz o tipo de professor distraído. Seus poemas em estilo expressionista podem ser lidos como um código.”

P. ex.

O Carrinho de mão vermelho (trad. José Paulo Paes): tanta coisa depende/ de um/ carrinho de mão/ vermelho/ esmaltado de água de/ chuva/ ao lado de galinhas/ brancas.

Na leitura de Herman Kahn, pai da FUTUROLOGIA: “Primeira questão: por que vermelho? Estamos diante do que definimos como ESCALADA: de um ponto ínfimo que seja, desde que vermelho, a desordem no mundo vai se propagando em progressão geométrica. O branco remete à paz, tratada no poema de modo derrisório, relacionado às penas fedorentas de galinhas molhadas. Em WC a chuva é um acontecimento cósmico, ver aquela imagem das árvores como feras marinhas (stalinismo) ou do amor gratuito como gotas que caem sobre si mesmas (terrorismo ou a pele da mulher amada). Imagens da ordem do que denominamos como The Doom Machine, a interligação aritmética entre bombas com poder de devastação geométrica afastando os inimigos da Civilização. O mal contagia. O mesmo se trata com o mesmo. Eis o recado que WC quis passar aos nossos inimigos, com esse aparentemente singelo poema sem sentido. Não confiemos na falta de sentido. E mostraremos aos tais que não somos galinhas.”

“PS. Desdobramento estratégico para a América dita Latina por Napoleão III: a chuva no caso deve ser pensada como nacional-desenvolvimentismo. Ao perceber que um mar de mijo invadia aquelas bandas, o presidente Schreber resolveu construir uma fortaleza. Ele estava errado porque água se combate com água. O mimetismo é o princípio fundamental da arte da guerra.”

NOTA: Herman Kahn, estrategista da guerra nuclear, fundou o Hudson Institute. Sediado em Wahsington, até 1992 voltado principalmente para estudos na área de segurança/defesa nacional. Depois disso, numa imprevisível e esquizofrência virada (lembrar que segundo Freud a paranóia é o processo de cura da esquziofrenia), o Instituto mudou seu tema preferencial para o multiculturalismo.

3/05/2009

Oito-Olhos, codinome Marco Antonio Villa

Vou mudar um pouco, mas só um pouco, a inflexão do blog. É que hoje fiquei com vergonha de ser historiador. Depois de ler um texto daqueles "contrafação de Oito-Olhos" de arrepiar os cabelos, no contexto da questão infame da "Ditabranda". Pensei em elaborar uma resposta. Comecei a escrever. Mas a tarefa é quase interminável. O que privilegiar num comentário crítico: as mentiras apresentadas por Oito-Olhos, os sofismas, as trapaças chanceladas pelo cargo de "historiador" ou as chantagens? Basta dizer que, com argumentos como os apresentados, OitOVilollhOs poderia defender o nazismo, o fascismo ou qualquer forma de governo. Afinal, eles também foram produtivos culturalmente. Resolvi então por aqui uma citação que eu tinha separado para a série Amérika. É do prefácio do Whitman a leaves of grass (só não sei porque traduzem por folha da relva ao invés de folhas da grama, é pra ficar mais bonitinho?). Aí vai, na tradução de Rodrigo Garcia Lopes:


"Quando a liberdade vai embora, ela não é a primeira nem a segunda ou a terceira a ir embora... ela espera que o resto parta primeiro... é a última a partir... Quando as memórias dos velhos mártires se apagarem totalmente... quando os grandes nomes dos patriotas forem ridicularizados em salas públicas pelos lábios dos oradores... quando não se derem mais aqueles nomes aos meninos e sim os nomes de tiranos e ditadores... quando as leis dos que são livres forem permitidas de má vontade e as leis dos dedos-duros e dos assassinos de aluguel se tornarem doces ao paladar do povo... quando eu e você passearmos lá fora sobre a terra afligidos de compaixão ao avistar inúmeros irmãos respondendo com igualdade à nossa amizade e sem chamar ninguém de mestre - e quando ficarmos exaltados com prazer nobre ao vermos escravos... quando a alma se retirar para a comunhão refrescante da noite e avaliar sua experiência e sentir imenso êxtase pela palavra e pelos atos que colocam uma pessoa impotente e inocente nas garras dos carrascos ou em qualquer posição de cruel inferioridade... quando aqueles em todas as partes destes estados que poderiam perceber o verdadeiro caráter americano mas ainda não o fazem - quando as pragas de puxa-sacos, sanguessugas, pusilânimes, parasita de políticos, planejadores de armações e dissimulados a favor de sua própria nomeação para cargos municipais ou legislaturas estaduais ou para o judiciário ou o congresso ou a presidência, obtiverem uma resposta de amor e complacência natural do povo quer consigam seus cargos quer não... quando for mais vantagem ser um imbecil decidido e um trapaceiro com cargo e um alto salário do que o mais pobre mecânico livre ou fazendeiro com o chapéu imóvel em sua cabeça e olhos firmes e um coração cândido e generoso... e quando o servilismo do município ou estado ou do governo federal ou qualquer opressão em larga ou pequena escala puder ser provada sem que sua punição siga em exata proporção contra a menor chance de escapar... ou então quando toda a vida e todas as almas de homens e mulheres forem banidos de todas as partes da terra - só então o instinto de liberdade terá sido banido daquela terra."

PS: Só tem uma coisa no artigo que parece inquestionável. Por aqui, a liberdade nunca foi bem vinda. Oito-Olhos deu mais um testemunho (e não uma análise) disso.

3/03/2009

nº 16

Virtual é o caralho’, ninguém estende a mão e tinge os dedos em você, rubro,
forjando mitografias nos puteiros do mundo.
Esta porra é cheia os puteiros e você, enfunado, se divertia
levando no olhar espinhos de sarcasmo,
escárnio e desprezo.
Labareda onde queima o seu espírito, que não sabe se o calor aquece
ou segue adiante.

(das "Notas Marginais")

3/02/2009

Em busca do amor (burguês e romântico?)

Em busca do amor (burguês e romântico?)

O que é o sentimento?
E a intensidade?
O mar intenso é o da ressaca? ou é de todos os dias?

O brilho do sol prima pela calma das ondas (idas e vindas)
estações, coesões do Eterno movimento
O amor é da ordem da calma? e a paixão da ordem da loucura?
Há paixão sem amor! Mas haveria amor sem paixões?
Mas paixão é intensidade? Tenra idade! Como seria a paixão dos idosos? dos loucos e dos jovens?

Dúvidas de um amor revolto-tranquilo e tranquilo-revolto

Dúvidas de um amor nascente

Dúvidas como as flores q. na primaveram desejam florescer
e a cada ano o fazem
para alegrar nossa existência

esperanças a esperar o desabrochar dessa flor

Entre minhas loucuras e sanidades: mais um delírio

Entre minhas loucuras e sanidades: mais um delírio

Entre routes e rotas
Entre pessoas e amigos
Entre crianças e adultos
Indo sempre a Entre Rios
Entre Rios e a Mesopotânia (Fodas a Grécia!)

É realmente possível a terceira margem?
Onde está aquele barqueiro
Entre o lobo e o cordeiro: eu?

Entre rios: qual margens?
Bordas cortando nossos bordados a esperar
nosso estilete a cortar
cicatriz que ciatriza a ferida que fere

Entre lugares (com ou sem hífem fem fem agora?)
Entre mulheres e mães
Entre o trabalho e o ócio
Entre o amor e o pecado
Entre Deus e Beuzebú

Entre o nomadismo sedetário e sedentarismo nomade
Entre jogos de verdade e jogos de linguagem
Entre a porra e o carralho

Não consigo entrar no meu coração
cor ação par coeur
ferido a estar curado

Em busca da trindade (dialética e não dialética; reconciliante e não reconciliante)
neutralizante
em busca da verdade e da paz no nosso inferno de cada dia

3/01/2009

Circusntância, 3

Você não vem - isto é definitivo
como no rapto de viver (surfar
na chama do instante, seu desatino)
a gente vê o presente cancelar
a si mesmo, contínuo, incendiando
cada segundo, agora, na explosão
de um outro a ele atado, ardendo tanto
que nada além de cinzas do lixão
do tempo, memória, vai ter assento
no chão do pensamento, e mesmo que
desse rescaldo a gente faça tinta
e imprima em novos livros fragmentos
de espanto, poemas, não vai deter-
se o fim, poeira fina, coisa finda.