11/30/2014

Nasci sem olhos
sem língua
com uma cascata de nadas pulsando
no sangue

vejo o mundo por olhos alheios
canto numa língua que herdamos
e sentidos catados nas ruas

caveiras programadas
à sombra da noite transparente.

*
Calçamento de pedras desoladas
da lua
costura de vozes e sombras
nos santos surdos de pedra –

onde falamos.

*
Atrás dos cogumelos de madeira
molhados de sereno –
uma silhueta sem rosto
vela meu sono.










11/20/2014

NOITE com LEONOR SCLIAR-CABRAL















NOITE


Plena de enigmas, noite de presságios.
Insone abri a porta do jardim:
nas moitas os duendes que se amavam
emudeceram.

Um aroma de pólen, cio e néctar
impregna a mucilagem sob a grama
que as mãos vazias, ávidas maceram
até o cansaço.

Estremece ao luar a goiabeira
 os frutos caem podres pelo chão,
mole-molência rubra sob os pés
a esmagá-los.

E o corpo rola exangue pela grama
no declive de pedras e de folhas,
mistura de húmus orvalhado e sangue,
só de prazer.


(Leonor Scliar-Cabral, in De Senectute EROTICA
Imagem: foto de Anderson Dantas com Leonor, na noite de lançamento do Suplemento Especial de Poesia Ô Catarina em 14 Novembro 2014)


Texto e Imagem cedidos pelo blog do Autor, ÁLBUM ZÚTICO

11/10/2014

LANÇAMENTO ESPECIAL de POESIA SUPLEMENTO CULTURAL Ô CATARINA!






































Convido a todos para o Lançamento Especial de Poesia do Suplemento Cultural Ô
Catarina! 

Os melhores poetas de Santa Catarina estarão presentes!!

Abraços!!

11/06/2014

[...]



eu quero um cavalo que se dissipe no ar e em cuja pelagem anoiteçam os sete segredos do meu hino de melancolias

em tudo, meu lugar nenhum. meu próprio cavalo azul

que tem sido sistematicamente chamado pelas bocas de uma legião de desaparecimentos de crianças, homens e mulheres

se tudo eu peço a esse deus em que não acredito

e que nunca me disse "levanta e anda"
e que nunca me disse que será meu o reino dos céus

eu mesma digo

pela minha boca, no fundo das bocas da distância em que estou de mim. exílio. no espelho
o olho do meu cavalo azul que não tenho. sem nome

11/01/2014

Noite passada fui tragado por um espelho
            Alguma coisa de líquens vampiros naquelas margens,
            De seres desclassificados na sedimentação do rancor
            Como se do outro lado do espelho
            Da vida, imerso em nada mordente de musgo,
            Meu sangue se esverdeasse todo em transparência
            À intensidade anímica de um porco espinho.

            Não há reflexo que não vomite monstros
No sonho da razão.

Nada de palavras que não arrombem simetrias.

            Você não vai se reconhecer.

            *
            Você ainda pensa que estão te esperando
            Mensageiros, espiões, ou todos aqueles
            Que foram massacrados no caminho.

            Você acredita que o tempo é todo seu.
            O tempo, essa vertigem de arames enrodilhados
            No vazio deixado por deus quando suicidou-se em universo         
            Conheceria bem os seus projetos.

            Você ainda supõe cautela e justiça
            Rumo a um final de sabedoria
            E que toda premeditação um dia será premiada.

            Você, com essa coroa de punhais caindo da janela
            Você, em cujo peito se anuncia uma constelação
            De vagalumes alucinados
            Gritando seu nome, o seu nome podre, na surdez pétrea do mundo.