12/28/2014

O tempo é passagem entre um lugar e outro, trânsito entre uma pessoa e outra. As pedras que sustentam a ponte no vazio são agora. Mas não existem dois agoras que se toquem. É uma impossibilidade psíquica, histórica e, antes de tudo, física. Quero morrer envenenado de comer um polvo cru. Ser enterrado com o rosto voltado para baixo, porque com o tempo o que está abaixo virá a ser acima, como um cão celestial.  

12/09/2014

Quando o espaço tiver minguado em seu próprio espalhar-se que dilacera proximidades, pode ser que nasça aquilo que será o sem-perguntas e sem-respostas, a rememoração absoluta do anjo futuro que apenas sonhará à beira de um buraco-negro. Posso até acreditar que essa divindade que nada cria e apenas revisita o que houve pode se deter num instante, um lapso em torno de toda engrenagem ao redor, passando do mais ínfimo ao imensuravelmente imenso em suas articulações, como um teatro nô da história do universo. Isso se deteria no momento em que uma suave silhueta se revelou sob nuvens diante de uma cerca enferrujada, no entardecer que ora eu via em roxo ora em verde, a face desenhada em cinza ao contrário sobre a paisagem cinzenta, todas as cores se depurando no clarão corrosivo da implosão da atmosfera. E esse último suspiro da natureza seria lindo – e assustadoramente solitário.