6/30/2007

Barra do Ódio


Paulo Corrêa aqui aportou &
Plantou os pés, metanol
Nas garrafas de pinga:

(Paulo Corrêa
O dizimador, o adestrador
De dragões, o contrabandista
De consciências, o bicão
Filador
De memórias alheias,

O senhor das chicotadas
Que ainda ardem
No dorso da castanheira
Centenária, no rio
Transparente.

O ceifador
De línguas, o semeador
Destes olhos furados
Ferventes, destas pálpebras
Que se fecham e comem
Sua voz, descendo até
Seu grito de dor

Estes olhos pontiagudos
Aos milhares
Queimando seus pés
Quando pisam
As terras de Paulo Corrêa)

6/29/2007

Mão Dupla (ou múltipla...)





..., mas ando a dois milímetros de mim
e isto é o mesmo que uma vida inteira
que eu atravesso sem eira nem beira
- onde o que eu sou não cabe mais em mim

e no futuro eu sempre procurava
este que agora sou desencontrado
mas não me via porque do passado
chegava um outro eu que me negava

vou pondo pedras nisto que era eu
incendiando um tempo irrevogável
sem ressarcir o dano irretratável

todo em lacunas sou o que me perdeu:
quem fui no meu futuro anda esquecido
daquele que vou ser no meu passado.

6/26/2007

O texto fala

Alguns textos tentam passar por coerentes e perfeitamente racionais recorrendo a clichês. Mas o leitor atento percebe que, debaixo da ordem apresentada, há um universo de ódio, rancor e ressentimento embalados no famoso “Complexo de Onipotência”. Já aconteceu várias vezes, e agora se deu novamente. Seu autor se considera o “Mais Inteligente Crítico da Baderna Estudantil”.
Mas o que fazemos para, além de “inteligente”, o texto se tornar “sincero”? É simples: aplicando a metodologia da desconstrução ao pé da letra. Trata-se do velho recortar as palavras, pô-las numa caixa e depois sortear. O resultado sempre é revelador. O texto fala (como dizem os psicanalistas sobre o orgasmo, “fazer o corpo falar”).
Eis aqui então o que realmente disse o nosso sagaz crítico:

A dissidência institucionalizada

Autor: Homo Sapiens

"Contraditoriamente dentro ou fora ou entre
Ou à porta dos radicalismos? Não importa.
A congregação das ignorâncias institucionais
Não opera com pessoas. Dá no mesmo.
Se tal vem se passando, é porque permite
O profundo alijamento do álcool, ou entender
O que poderia ser corrigido na profanação
Da ignorância dos elementos institucionais.
Ou seja,
Do ponto de vista das violações improvisadas
De um universo caótico de regras.

Por princípio, marginais não conseguem compreender a interminável
Coerência desde sempre institucionalizada;
Seus órgãos de inspiração revelam uma espécie
De longo impedimento das demandas de hoje:
Daí explicar minha resposta gerada nos interesses pessoais,
Mas sempre na retórica da legalidade negando confrontos,
Regrando as pessoas.
O que proíbo é o que a democracia não permite,
No efeito estético de métodos e discursos
Que fazem não parecer ser autoritário:
De um lado, máscaras, possibilidades de pessoas,
De outro, o conjunto principal das situações
Legitimadas, o bom esforço dos processos
Da democratização vigente,
A Universidade que não quer ser
E se deparou com a universidade,
O universo das academias que se recusam
Nos conselhos decisórios da Verdade.

Para eles: a história e a natureza do Estado,
Aperfeiçoando o ângulo dos perdedores constantes
Com a violência do pacifismo
Dos radicais civilizados que sobrepõem
Suas associações de participação, no surto
De suas próprias características.
Tudo contra
O sombrio efeito estético da democracia
E seus odores e a violência
De nossa jovem marginalidade
Talvez também inflada por pura autonomia.

Nos dias de hoje, as comunidades menos organizadas são
Os grupos do Departamento do Diálogo Diretivo,
Os grupelhos civilizatórios da dissidência
Cidadã contra a democracia uma vez
Que, entretanto,
A Grande Sucessão reveste-se por falhas:
É a violência das regras,
Das instalações de sua pertinência assumida
Por burrice, pela via de outras vezes,
É a sempre necessária simbologia
E o oportunismo político
Sobre a locomoção de uma opinião
Atavicamente “estudantil”.

É exatamente
Ainda sobre a não fala
Encarapitada no surto popular do homo sapiens,
Que se sobrepõe
O surto do advento dos radicalismos institucionais.
Trata-se de algo como uma primeira invasão
Institucionalizada da burrice decisória,
Seja do Correio das Práticas de Conotação do Direito
Seja da Unidade das Verdadeiras Práticas Sociais
Solucionadas pela emissão do Todo,
Ou da sã medida social do espaço nos processos
Ressentidos (legais ou ilegais), no recente
Arrombamento da expressão.

Ou seja, a necessária pedagogia:
Deparar-se com as fotografias
Das festinhas autoritárias institucionais,
Com camisetas institucionais, que lhes sejam
Caras, na via associativa das ignorâncias
E das boas intenções de presídio
Com telhados pedagógico-democráticos.

Dizer e redizer:
Uns e outros, outros e uns, outros
Dissidência a álcool.
Democracia, democratizar, democrático
Democratizante, instituicão, institucional,
Institucionalizar, política, politicamente,
Politização civilzatória, processo, processo,
Processo."

6/23/2007

Névoa sobre o mar (letra sobre um blues de Fred Martins)






1.
o azul turquesa de um neon
acende estrelas nos lençóis
e envolve o teu olhar
ton sur ton
(névoa sobre o mar)

2.
por entre as cores do edredon
se movem as luzes dos faróis
eu penso em te deixar
e ando com
súplicas no olhar

(refrão)
nos labirintos quentes
que o amor me lançou
me perdi
e esqueci
quem sou
são armadilhas de cetim
febris até o fim
mundos vis
por um triz
da dor

3.
disfarça a fúria dos arpões
e a falsa espera dos anzóis
a luz do teu olhar
(tão gelado olhar)
chuva sobre o mar

6/22/2007

Fazer Questão de Sobrevivência

Pertencer,
Imediatamente e por inteiro.

Sumir do estado de exceção
Que te abandonou.
Livrar-se
Da areia do deserto que você
Carrega na bolso como quem
Chega da praia (como quem confunde
O rumor do mar com a aproximação
Do exército inimigo).
Ou da próxima vez
Derrube-se o poste ao lado certo.

Retirar-se agora à procura do
Espaço onde plantar
Os pés, qualquer missão, mas só
Das compartilhadas.
O nome certo de Deus
Uma ferida reconhecível
Saber quais pecados e
Em nome de quem confessar
Ou passar três dias
Diante do espelho à espera
De Lúcifer, que seja.

Conferir o destino no horóscopo
“O Pisciano é raro, especiaria
Tipo pimenta-do-reino”
Ou versar sobre as idéias
Que não estão no lugar, qualquer
Via em saber ser
Opinativo, acender os Oito-Olhos
Que você faz de tudo pra apagar
Usando óculos escuros à noite, até porque
Os Oito-Olhos estão aqui dentro
Com você, você sabe,
E neste momento se ocupam
Das certezas perdidas
Sobre as quais você se lamenta
Como quem andou comendo
Carne podre.

Admita que você não sabe não
Ser, de uma vez,
Ou cresça e desapareça.

Arrume de corpo e alma a
Sua
Sub
Missão,
Desertor:

Desenhar emblemas
Nítidos
Não misturar amigos com inimigos
(Sobretudo não amar
Os inimigos, ouviu
Demiurgo dos açougues falidos?)
Não pender
Como um saco vazio
Em frente ao supermercado
Não cair
Como um anzol sem isca
Entre o peixe e a ilusão

E assim por diante
Até que te encontrem com hora
Marcada, num dos seiscentos
Lados
Do campo de batalha.

6/21/2007

A estranha cara dos peixes

Ao longe
a espuma
se confunde com
Pequim
ou alguma cidade longínqua
agora adormecida
a base de fortes
soníferos

Ao longe
a névoa atrapalha
talvez Babilônia ou Alexandria
ainda vivas gritam soterradas
alguma guerra em marcha
pesa em suas sombras, o cais.

A espuma
branca
reluz como límpido ponto inalcansável
volúvel
vai com a maré
[vai como maria com outros]

enquanto por aqui
as peças do xadrez esparramadas
você
indiferente
o livro
embaixo do braço.

6/20/2007

E a sua música, cadê?

Entranhada em você
Uma cuíca geme.

Feminina, pede passagem

E acentua o ritmo
Suado e surdo

Da nossa estupidez:

Tudo o que a gente poderia
Mas não dança.

6/19/2007

UM

UM não é um número, mas o sim ausente que ocupa o lugar esvaziado

É o palhaço assassino com faca de açougueiro correndo contra quem se perdeu do senso comum. É a boca das bocas,

Lobo contra lobo, tanto fala que te cala (no fundo tudo pretensão, armação de língua e cassetetes).

Vendo bem se vê que todos doam os dentes para a potência do UM, não há força que saia por dentro.

UM em si mesmo não tem pernas, mesmo sua voz seria muito restrita sem o ultra-amplificador que vai de ouvido em ouvido, calando fundo ecos da vida interior.

UM sozinho não destroça a manhã. Mas ao mesmo tempo sem a única presença os destroços da manhã seriam mais uma alucinação. E a manhã é uma coisa normal.

Conheci uma e uma e uma vida esmagadas na luz muito forte que emana de todos os olhos postos no UM.

Vidas inadimplentes. Deslocadas. Abortos do UM. Vidas menos que.

Eu não, talvez, não sei. Mero espectador noturno que se vira entre uma e outra, se soubesse rezaria a São João Ninguém que intercedesse por elas.

6/17/2007

Take a look at yourself

+++

These are my last whishes,
(Just for you)
Honey.

Only few words

So deep
So cold
So free

That it is possible you freeze
In the same minute that you read them.

And all your thoughts of love
(Your love-attack)
Will become a cloud

Raining.

And a thousand of little drops will reach the sea
(Your sea)
And they will make marshy your sweet dreams, my dear,
And they will become bitter than salt.

6/14/2007

Em Campinas

Ele pega o pedaço de fio elétrico caído no asfalto. Primeiro, sorrindo, enrola o fio no antebraço – depois, com o mesmo fio, amarra um jornal que um pastor evangélico lhe deu de madrugada. Ele tem um curativo na cabeça e pedaços de grama no cabelo. Sua boca arde quando não bebe de manhã.

Outra noite eu segurava um cinzeiro azul, velha recordação da família dos outros.

Na portaria do condomínio Ilhas do Caribe uma senhora diz ter medo de passear com seu cãozinho. Há três dias aquele marginal dorme na calçada em frente. Outro senhor diz que o vagabundo é um fugitivo da cadeia. Os moradores se sentem vítimas de uma calamidade, como se estivessem bêbados logo de manhã.

Nos pontos de ônibus jovens de belos corpos pintados roubam o lugar de mendigos e vendedores de chicletes.

Por um momento, sei que ele pensou em me matar com o fio elétrico. Ele sorriu de um modo estranho, mas logo me disse que não mais mataria alguém para manter seu vício. Eu respondi, neste mundo escroto só nos restam os amigos.

O cinzeiro azul caía no chão. Numa luz ainda estranha, eu acordava e pensava nas coisas que encontraria, apostando na sua familiaridade.

6/11/2007

Acertei no Milhar



"Acredito firmemente que a poesia tem de ser do seu tempo. Em outras palavras, não podemos escrever sonetos como faziam os poetas elizabetanos ou dísticos heróicos como Pope e Swift. Assim, num dado conjunto de poemas, eu busco sua poeticidade, obsevo o seu uso da linguagem, mas também o lugar que ocupa na tradição e o seu papel na cultura."

Marjorie Perloff

(entrevista a Alcir Pécora, 23/3/2005,



a má sorte (o azar...) que não me larga
vai me sacanear na Primavera
(sempre me espreita): essa besta fera
quer me servir sua bebida amarga.

a Ventura e a Fortuna estão cansadas
e prontas pra mudar de freguesia
aí mesmo é que só me restaria
outro verso quebrado (que cagada !)

já não pertencem ao meu vocabulário
palavras que me dêem alguma sorte
todo mundo percebe que o otário

nisto sou eu - mas não há quem se importe
e nos vãos do destino em que me meto
só me resta acabar este soneto.

Sanguessua bolorenta

Me cansei de comer sangue.

Queimam-se
As pernas pesadas
Nas pedras ao molho pardo.

Delicadas tripas são
Mal arranjadas
Nesta habitação de morcegos, aqui
Sou neoqualquercoisa axiais,
Ortodoxiais, ortovocabalures
E o diabo me carreguei
No vento das definições.

Nos dias atuais mastigo bolor
Mais celulose e a química do corpo
Do sapo peçonhento
Cospe novas faixas
Oblíquas
Entre as três oficiais
Da avenida, por
Dentro dos olhos de quem mastiga
O indefinido.

O novo camarada, o Senhor Solstício
Embaralha sombra pra todos os lados
E a luz fria se lamenta contra
O viajante do meio-dia
Que pretendi desassombrar, o vencedor
Em nome de tudo, a lei
No coração, as estrelas
Nos olhos. A nostalgia das cachoeiras.

Hoje em dia
Mastigamos finas agulhas de cristal
Bebemos o reflexo do sol na areia
Que sempre corre mais rápido:

Conceitos são momentos coagulados.

6/10/2007

os dias úmidos

ou outro
pescoço

para cravar
dentes

e nuvens

outros azuis
de outono

ou
to
no

mar

ou
to
no

céu

tudo chora
em seus

lenços

tu não
me sonhas

não me

tinhas.

Carne de Pescoço


"Não almejam (aqueles bons poetas, os inventores*), como as viuvas de Olavo Bilac e Gonçalves Dias, retomar os metros clássicos, o soneto reciclado ou a retórica de juristas da província, mas...."
Claudio Daniel (no prefácio de Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil)
* inserção nossa, elucidativa.....


me ancoro na Virtude, amo o Vício
e o Caminho já não me captura.
Perdi o senso e ainda que sentisse
o mal na pele, ao largo da Ventura,

contra a Natura e em franco desespero
barganharia um tácito armistício.
Largo a Fortuna, a previsão, o esmero
e ando sorrindo aos cravos do suplício.

De fato em nada mais eu acredito
e assim destilo em gotas a ironia
- quer no sentido lato, quer no estrito;

recolho as armas, ponho o meu pijama
e vou sonhar com a Musa, esta vadia
que (há muito tempo já) não mais me engana.

6/05/2007

Elegia ao meu Pequeno Amigo Verde

Vamos, meu pequeno amigo verde
Vamos repetir a palavra mairowi
Mairowi mairowi
Por mais de uma hora
No quarto escuro
Pra ver se o rádio responde (o telefone
Está no gancho, lá na sala).

Não tenha medo, meu pequeno amigo verde,
Eles dirão que somos louco
Que ando alucinado e você não existe
E eles só temem o que existe
Os fetichistas do real
Não te farão mal, meu pequeno amigo verde.

Podemos enrolar os sabichões no papo
De que todos que se dizem loucos
São normais
E de que todos os loucos
Dizem ser normais.

Não tenha medo da rua,
Eu te levo escondido na bolsa
Entre a Organização Nacional
E o Louco do Cati
Só pra você me dizer suas frases
Niilistas, ácidas
Como a mais maledicente das patricinhas
Meu pequeno amigo verde.

Por acaso
Estão rindo da gente?
E não era isso o que você queria
Meu pequeno amigo verde?
Melhor ser risível, xará:

Não te curti no dia
Em que você correu como um bispo
Atrás da glória
Dizendo: não quer nada um padre que pisa
Em São Paulo.
Você mais parecia
Um glorila gloricida com glorilococus no rabo
Meu pequeno amigo verde.
Não te curti quando se meteu
A conselheiro literário e
Sentimental
Dizendo: eu sei que não eu sei
Que não vai dar
Certo, vai por mim
Eu já passei por isso.

(Ir por você? Menos,
Meu pequeno amigo verde
Você sempre erra, se perde
No meio do caminho, fica chutando
Pedras como se fossem perdas.
E você já passou por isso?
Você que nem passa a própria
Roupa? Olha essa blusa
Amarrotada, meu pequeno
Amigo verde).

Mas não, nunca, absolutamente
Caia na real.
Deixa eu te ensinar a palavra mairowi.
Vamos gritar à janela
Mairowi, mairowi, mairowi
Pra ver se o hotel neoclássico daslu
Explode
Ou se nos mandam uma ambulância
Meu pequeno amigo verde.
Vamos viajar na maionese
Até que mesmo os alternativos
Se afastem, com medo do
Seu cérebro, meu pequeno amigo verde,
Que estoura que nem balde de pipoca
No cinema Severiano Ribeiro.

Deve ser isso, o cinema
Perverteu o seu bom senso, ó amiguinho
Niilista
Anárquico
Poliglota
Troglodita

(e verde).

6/03/2007

nº 38




Nós que nos amávamos tanto, estes que fomos, perdidos
que estamos, estávamos, e os caminhos
desta cidade toda maravilha e desespero, toda
encantamento e agonia, estamos
indo sem saber
se é necessário, ou pra onde. Este desejo se arvora
(se agarra, se finca) num canto da alma
que você não espera que exista, como qualquer
paraíso – os bônus de depois vivem
pelos territórios da hipótese e da dúvida neste momento em que
você só quer o Agora, o vórtice do Agora, ou o
seu desespero, seus ápices e grotões esburacando
as faces límpidas do tempo, todas as suas falhas
em consonância com o que você é,
tão imperfeito e, no entanto,
em paz.

Colégio Эnte

Dou às costas seu alimento:
O futuro alheio.
Эsperei longo tempo já.

Na hora de matricular meu pirralho,
Эm projeto na mulher qu'inda não tenho,
Cada escola se contorce ao formar
Mais ampla rede par'ampará-lo.

Aranha, que pode tua verruga
Contra um ônibus batido em porta de casa?
Quem transfere a fórmula madruga
Na trama frouxa sem caxumba?

Decerto que sim. Prodígio da semana,
Sem nenhum repórter por perto
Enterro em plano pó um pirralho deserto
Que matou o tempo comigo, mas só eu

Fui condenado.