6/19/2007

UM

UM não é um número, mas o sim ausente que ocupa o lugar esvaziado

É o palhaço assassino com faca de açougueiro correndo contra quem se perdeu do senso comum. É a boca das bocas,

Lobo contra lobo, tanto fala que te cala (no fundo tudo pretensão, armação de língua e cassetetes).

Vendo bem se vê que todos doam os dentes para a potência do UM, não há força que saia por dentro.

UM em si mesmo não tem pernas, mesmo sua voz seria muito restrita sem o ultra-amplificador que vai de ouvido em ouvido, calando fundo ecos da vida interior.

UM sozinho não destroça a manhã. Mas ao mesmo tempo sem a única presença os destroços da manhã seriam mais uma alucinação. E a manhã é uma coisa normal.

Conheci uma e uma e uma vida esmagadas na luz muito forte que emana de todos os olhos postos no UM.

Vidas inadimplentes. Deslocadas. Abortos do UM. Vidas menos que.

Eu não, talvez, não sei. Mero espectador noturno que se vira entre uma e outra, se soubesse rezaria a São João Ninguém que intercedesse por elas.

3 comentários:

Aldemar Norek disse...

Não sei exatamente se, quando a ética contamina a estética, o resultado são bons poemas. Tenho a sensação que que a ética contamina negativamente - ou a ética linear. Temos exemplos de canalhas/escroques/safados ótimos autores. Talvez a literatura tenha o papel de alargar limites ou por mesmo em discussão o que na voz comum é corrente.

Mas o fato é que gostei muito muito deste poema. E tvz pq a voz corrente seja mesmo a voz do Um - neste sentido ele alarga limites, pela sua percepção e forma.

grande daniel.

abração.

Daniel F disse...

Pois é Aldemar, há um tempo atrás escrevi um texto sobre isso, vou por aqui mesmo:

Oswald de Andrade não tinha caráter ,deixou Raul Bopp na solidão e só conhecia a linguagem da humilhação, do desprezo e do deboche. Mário de Andrade, hipócrita além de hipocondríaco, amava os amigos nas cartas e os descartava publicamente, isto sem contar sua adesão ao miasma nacional-desenvolvimentista ao mundo violento de Vargas. Fernando Pessoa manteve os heterônimos em anonimato, ao passo que dedicava sua Mensagem a Sidônio Pais, tirano carniceiro mesmo que efêmero de Portugal. Ezra Pound dizia que Mussolini ia acabar com a usura. Castro Alves, alcóolatra inveterado Vinícius, além de querer ver beleza no machismo, trabalhou para a censura de cinema. François Villon, este então era assassino e ladrão. Homero, de todos o mais cafajeste: a uns dizia ser cego, apesar de nunca ter existido, além de ser autor das incompatíveis Ilíada e Odisséia. Já eu, por minha parte, dedicado à arte das causas justas, praticante da bondade no limite tolerável da bondade, democrata e progressista social, nunca escrevi nada que preste.



é isso aí,

Abraço!

Daniel.

Eliana Pougy disse...

Pra que prestar pralguma coisa? ;)