6/30/2009

Manchete reveladora da FSP

Sapo não esguicha veneno de propósito, diz cientista.

Na antevéspera de sair

Gato se esconde no lençol –
O medo dos ecos
Que agora moram na sala.

* * *
Os ecos chegaram primeiro
Os ecos serão os últimos
Depois da luz apagada e da porta –

Trancados por fora.

* * *

Sala branca, território
Livre para os barulhos da rua:

Gritaria de ecos na sala vazia.

* * *

Gato se esconde na mala –
Conversa de ecos
Na sala desabitada.

* * *

Onde o gato se meteu? –
Ecos conversam
Sobre o medo na sala branca.

* * *

Gato e ecos trocam
Idéias sobre o vazio:
Luz apagada, sala sem móveis,
Mala enviada como relíquia
No caminhão de mudanças.

* * *

Na chegada eram dois
Gatos e oito ecos, na saída
Um gato a menos e quatro
Ecos a mais.

* * *

Gatos se tornam ecos
Quando morrem na cidade
Vazia, ecos são guardados
Nas malas, como relíquias.

Nas malas vão vestígios das salas, vazias.

6/28/2009

Vista sobre a cidade, sem horizonte

Você morreu um pouco, mas não choro
porque a agonia foi minha
e lenta
ainda desfolha, cínica, imagem
por imagem como um atirador
de facas mirando o espelho
até riscar na superfície
do corpo as palavras
mais duras
do real.
Antes não, do oitavo andar à frente
uma névoa, neblina espessa, bruma
tomando de assalto e sem pressa
o espaço todo enquanto
olhando ao fundo o rio de asfalto
desejava o salto até perder-me
no curso opaco dessa lama negra onde
as coisas permanentemente vão,
pra sempre vão
sem volta, desejos
desencontrados – confessar
que desisti, impossível ir
além da margem onde homens
e mulheres andam à deriva
porque pensam, olhos sobre imagens
nos espelhos, nuas, imagens
em camadas que nunca deixam
ver o que por baixo grita: você morreu
um pouco, me sento
a seu lado e converso
com a outra
parte.

6/23/2009

Saudade, substantivo transeunte

Não tenho apenas saudade do que passei.
Sinto saudade do que não aconteceu.
Um olhar que não se encontrou,
Uma ideia que não deu certo,
Um lugar em que não estive,
Um poente que não presenciei.
Só quem nunca viveu
Na luz de sua própria
Imaginação
Sente saudade somente
Do que foi
E não
Do que poderia ter acontecido.

Decisão

Num belo dia,
Tomei uma decisão:
Não quero mais viver no inferno,
Sonhando com o céu.

É pura perda de tempo:
É como se morássemos
No meio do mato
Sonhando com São Paulo.

Ou no interior
Sonhando com o litoral.

Chega. Estou onde devo estar.
Se quiser sonhar com outro lugar,

Faço a malas e, simplesmente,
Vou.

O blues da patricinha visceral

Tudo é testemunho no universo
Da patricinha visceral, o seu umbigo
É o próprio umbigo
Do real.

No shopping center, quando
A patricinha solta
Veneno sobre a arte de comprar
Sapatos
É como se Tutankamon
Dissertasse sobre as virtudes
Da morte
Nas profundezas de uma pirâmide –

A patricinha visceral
È o melhor remédio
Contra as mentiras de amor
Gritadas nos autofalantes das lojas.

A patricinha observa o shopping no prisma
Da arte de ver com olhos
Críticos, seu cinismo é o antídoto
Às pretensões neohippies
Da mercadoria.

Na verdade eu até curto
A patricinha visceral, ela me ensina
A ter raiva e me odeia mas com uma curiosidade
Ambígua
E seu cuspe cítrico
É melhor que milkshake de ovomaltine &
A frieza do olhar que esvazia
Os balões em forma de bichinhos
E corações sob as lentes
Intensas dos óculos de astronauta
Que brilham como um copo de vodka
Azul, tudo como num velho blues, estilo

Baby, fix one more drink.

6/19/2009

Oito-Olhos ataca de Cretinélio e

"A regulamentação inexistente é omissa quanto aos documentos exigidos para a petição que o senhor apresenta. Documentos, estes, também inexistentes, os quais, portanto, só podem não conter as informações que não sabemos se são necessárias porque, obviamente, a regulamentação não pode ser encontrada. Com tal grau de omissão, o regulamento e a documentação só nos levam a uma conclusão: a de que qualquer conclusão não será válida, por ser, ela também, inexistente. Mas não temos nada contra a sua petição sem fundamento. Só não entendemos o motivo da urgência: por acaso o senhor viu algum coelho entrar em alguma toca e por isso acredita que caiu num mundo em que toda negação é denegada, não redundando numa síntese mas numa nova negação renegada? Ora, precisamos de tempo para encontrar os motivos inexistentes para respondermos negativamente à sua petição que vemos com bons olhos (os olhos imateriais do espírito que não temos, porque somos materialistas, mesmo sabendo que boa parte do que consideramos matéria é, de fato, vácuo). Assim que acharmos os papéis que se encontram guardados em não-arquivos, que conferirmos as desinformações inencontráveis nos documentos que apenas antevimos com nossos olhos incorpóreos voltados ao porvir (o não-aqui e o não-agora) poderemos dar seguimento à nossa impossibilidade de opinar sobre o assunto. Salvo disposições em contrário."

6/16/2009

Cretinélio, primo do Conselheiro Acacio & inimigo mortal do Absurdo

A partir de agora, comentários anônimos e
desaforados vão se tornar uma forma
de colaboração ao blog. Estamos,
eu e os xingadores, compondo
um personagem tipicamente internético:
Cretinélio, o inimigo mortal do Absurdo.
Dessa vez, até pra manter o caminho iniciado,
optei pelo método do Fazer o Texto Falar, que
como todos notaram pode ser usado com discursos de
personagens, codinomes e/ou pessoas de carne e osso.


O bordão do Cretinélio, por enquanto, será:

Quem nunca fez uma cretinice anônima que atire
a primeira pedra.


Eis a primeira fala do nosso personagem:




Não... num entendi? Meu... uma certa?
Um REALMENTE tão grosseiro com
O olho gordo da Vila Bad.

Você é um burro equívoco mesmo.
Você, posar de satírico?

A vergonha na base do gênio
Sou eu,
Ou o caramba anônimo não dá.

6/12/2009

Boletim de Ocorrência






a minha navilouca se perdeu

Acontecimentos da USP, na análise do Prof. Chapadonildo

O método de elaboração e mesmo os marcos do "raciocínio" do Prof. Caralhovaldo já passaram por aqui.


Os professores combatentes ilegais venceram, além de serem derrotados.
Seus comandantes marxistas, êxito em situação inferior.
Soltavam essa conseguindo virar os policiais da Pátria da Guerrilha.
Voluntários vermelhos fortemente em combate respiraram melhor o brilhantismo do progresso.






Logo, quando os perigosos cercaram o ambiente, bravamente, a batalha coube
aos Subversivos Públicos. A ação dos perigosos e derrotados combatentes
foi se refugiar no território da bravura. Agradecemos à a sagacidade dos comunistas que, pouco a pouco, capturaram a educação muito forte dos soldados emocionados.





Parabenizamos, como grupo de representantes da bravura, os patriotas
das Verdadeiras Fileiras Suíças. Homens de tenacidade ímpar na defesa
do menor número, para poderem espargir prosperidade. Quais?
Bons aos inimigos, que apesar de soldados guerrilheiros, já começaram
a obrigar ao armamento à brasileira. Resistiram sitiados em fuga, em plena
baixa econômica. Eram mal armados mas lograram à Força o assalto altivo.
Tomados de Ordem, na extrema galhardia Pública. Líderes em quantidade comunista,
havia os guerrilheiros de São Jogo.







Bom para o meu Pau, tentar à força o mesmo com o núcleo, o feroz
Elemento, a dedicação ao grande triunfo, a luta em grande graça, o pum que defende
a Lei contra os Comunistas e mesmo lá os atos de lealdade a São Ar.

6/07/2009

Psico Tio Sukita

ela reclama os restos de inocência
guardados na bolsa
como lixo reciclável –

sob a luz seca
de uma cidade amputada
por estradas e pela natureza
do cerrado –

e eu me explico
eu, o demônio escondido no bolso
do homo sapiens

como eu poderia ser normal
querida
debaixo deste sol de sanguessugas
se há tempos respiro o bolor
de papéis velhos e meu sangue
é verde-musgo, como a lama
de um poço inventado por Poe.

só me resta a esperança
de não ser inofensivo,
deixa de lado a reciclagem
e vamos fazer
um jogo dadaísta.