6/30/2009

Na antevéspera de sair

Gato se esconde no lençol –
O medo dos ecos
Que agora moram na sala.

* * *
Os ecos chegaram primeiro
Os ecos serão os últimos
Depois da luz apagada e da porta –

Trancados por fora.

* * *

Sala branca, território
Livre para os barulhos da rua:

Gritaria de ecos na sala vazia.

* * *

Gato se esconde na mala –
Conversa de ecos
Na sala desabitada.

* * *

Onde o gato se meteu? –
Ecos conversam
Sobre o medo na sala branca.

* * *

Gato e ecos trocam
Idéias sobre o vazio:
Luz apagada, sala sem móveis,
Mala enviada como relíquia
No caminhão de mudanças.

* * *

Na chegada eram dois
Gatos e oito ecos, na saída
Um gato a menos e quatro
Ecos a mais.

* * *

Gatos se tornam ecos
Quando morrem na cidade
Vazia, ecos são guardados
Nas malas, como relíquias.

Nas malas vão vestígios das salas, vazias.

Um comentário:

Aldemar Norek disse...

Este é um dos poemas seus que mais gostei até hoje.

Este jogo entre permanência e seu oposto - mas um oposto que ainda insiste como eco (é umma metáfora da memória que fica falando?)

E os gatos como o lance animal, muito bom.

Vou reler.

abração.