3/24/2014

Momentos antes de dormir
sou raptado por um cometa,
ele captura grudando ventosas no peito
e eu vou com ele à toda velocidade no espaço luz prata.

Talvez o redemoinho parta
de dentro da alma:
estou em relação à circunferência
desenhada no abstrato da vida,
da mesma forma que você
ou qualquer outra pedra inerte
estilhaçando o gráfico das sepulturas.

Nada está mais perto
de qualquer ponto
nesse mecanismo de projeções.

Mãos frias como gatilho de revólver
manipulam as marionetes do infinito.

Ser uma flecha atirada
num mesmo instante
para todos os lados,
ou o mero medo de despertar
com uma notícia em pânico:

eles estavam aqui
e foram todos tragados –

sem chão, sem teto para situar-se,
eles caíram na fenda
no chão que virou teto
e tudo o que havia
num instante agora se foi.





3/07/2014

Minha vida não gira ao redor de si
            É da loucura e da morte que giram
            Na lua girando por dentro
            Em torno de um coração
            No sangue do vento que arranca, veloz, do centro a periferia
            Tantos pássaros obscuros no calabouço em que me confino
            Ao barulho de asas topando no teto escuro
            De amores natimortos descendo pelo ralo
Numa escada em espiral, no passado repentino
Como as ondas fazem curvas
Ao redor de castelos de areia, cavando com sal em feridas
            E tantas coisas girando ao redor
            Umas de outras, uma imagem leva a outra
            Que afinal ninguém sabe o que gira ao redor de quem ou escala:
            Se falamos de um leão em círculos por dentro da jaula
            Um planetário refletido em pupilas de crianças fascinadas
            Ou alegorias da dor num motocontínuo de palavras
            Ou ainda se preparo um bote pra me atracar com minhas derrotas.

Tudo no fim questão de referência em vertigem
Percorrer nomes mas sobretudo um nome: como se um redemoinho
Tivesse dentes e roesse a memória em movimentos circulares.
           
Giro no assunto ao dizer que giro ao redor de nada
Bem definido
            E minha vida não gira ao seu redor
            De alguma vaga lembrança
            Como gira em vagalume a luz que se apaga,
            O que não impede que algo como uma luz opaca
            Um vento muito frio e impassível, de roedor
            Gire ao redor de lágrimas que caem concêntricas
            Sobre as folhas que pisamos em meus sonhos
            Girando ao redor de algo como
            Alguém libertando os pássaros sabotadores
            E soprando de vida os sonhos mais delicados
            Que trago guardados numa velha mala de poemas:

            Assim em qualquer coisa toda hora tem um como se,
Ou algo como se fosse, girando ao redor do que não se pode dizer
Com propriedade, ou seja, é sempre uma imagem nefasta
Em torno de outras.
            E o tempo todo remoendo esses risíveis desastres
            De lua com pele azul toda trançada por dentro
            Girando ao redor de outra lua amarelo-rósea
            E ambas girando ao redor de um imenso e lento planeta aéreo
            E afinal o planeta que seria o centro sólido desse carrossel
            É apenas um turbilhão de vapores girando ao redor, entre si
            E não há centro para a vida disforme,
            Pulsando como luz que falha ou poeira vermelha na ventania um leão
Neurotizado com medo de ratos, e isso se o coração por acaso girasse
            Ou tivesse um sentido e gerasse uma gérbera –
            Que aqui vem ao caso de qualquer coisa palpável
            Que você – você mesmo – poderia supor.
           
            Saber que a vida não gira ao redor de si –
            Vamos lá que não é grande novidade
            A questão é o que fazer com o turbilhão que nos espera

            Da escada ao nada. 

3/02/2014

No cair da tarde
            cair em si.

            Arde azul
simula afogar-se
o ar se resvala:
peixe prata na areia celeste.
           
            Nuvem dourada
            desenha animal marinho
            pegando fogo,
            meu fantasma coração:
           
guelras sopram seu nome,
pouco antes do despontar
de estrelas.

            Vertigem, capturar-se
            de anzóis velozes –
           
            socorro que me pegaram!

            mais alto, mais fundo
mais rápido;
           
contabilidade
de pequenas mortes.