5/28/2009

Resenha de A Bolsa e a Vida de Le Goff, segundo a doutrina do Acaso Objetivo


Na parte inferior do cérebro, na região que a ciência denomina de estriado, reside o vício financeiro do jogador que se apaixona pelo risco. O estriado, ao provocar ondas de calor que sobem pelo intestino do seu proprietário, também indica a presença da buceta mais desejada de uma festa, razão pela qual o indivíduo que tem o estriado volumoso geralmente acaba se acasalando com jovens advogadas, não importa quão escrotas. O que este tipo de incauto não sabe é que do estriado sai um canal invisível que, descendo pelo cu, faz uma ligação direta com o mais profundo dos infernos. A jovem advogada com quem ele contraiu matrimônio, por ser ótima defensora das moedas que ele insiste em não devolver vomitando, terá que passar o resto dos dias definhando ao lado de seu túmulo, orando interminavelmente, prostituindo-se para os imensos fantasmas dos banqueiros culturais. O coitado somente então entenderá que aquela incômoda ardência em seu rabo não era fruto de prosaicas hemorróidas, mas sim um presságio de que ele teria que passar a eternidade sentado num chão abrasivo, sob uma sufocante chuva de fogo.
Hoje mesmo eu conheci uma dessas jovens e infelizes senhoras. Ao passar pelo lúgubre cemitério mais conhecido como Procon, uma voz me intimou a entrar num de seus mausoléus (o pertencente à família de mafiosos Nossocaixão). O lugar fedia a miojo misturado com guaraná Mineiro. A moça mais parecia uma velhaca decrépita enquanto me convidava para ser seu companheiro de refeição. “Ela deve estar querendo dividir com os pobres o dinheiro conquistado de modo sórdido por seu marido”, pensei. Porém, saí dali assustado quando a vi tirando o prato de dentro de uma daquelas gavetas onde se guardam defuntos. O prato estava cheio de sapos e serpentes, que pelo fedor deviam ter sido cozidos no enxofre.

5/27/2009

Um tiro pela culatra

Avaliar é uma tarefa de refinada hipocrisia, pois sempre corremos o perigo de sermos o Simão Bacamarte de nós mesmos.

5/25/2009

Caminhar com Nietzsche

O andarilho nunca persegue sua própria sombra. Por mais que ame a humanidade, conheça pessoas e dê a elas sábios conselhos, o que mais interessa é que ele se solte da sua sombra. Durante um longo período da sua caminhada solitária, o andarilho escutou todos os conselhos da sombra, assim como a sombra dependia de todas as ideias do andarilho – afinal, ambos precisavam sobreviver. O andarilho trocou inúmeras palavras obscuras com sua sombra, de modo que, na hábil manutenção de enigmas para terceiros, ficassem bons amigos durante o seu inevitável convívio. Mas, quando a luz do conhecimento bate, inesperadamente, sobre o caminho do deserto, algo desaparece como num piscar de olhos. Faço, enfim, a pergunta: quem sumiu de repente com a luz do sol? O andarilho ou a sombra? Ora, a própria sombra teria dito, no início da caminhada, que “todos reconhecerão somente as tuas opiniões ali: ninguém se lembrará da sombra”. É preciso primeiro perder-se no deserto para, quem sabe, reencontrar-se na sua própria imaginação. Perder-se novamente em outros desertos e reencontrar-se novamente em outro lugar... ou outro pensamento... ou outra vida...

nº 94





Corpo, labirinto
entre você e o mundo, perdição
de todos os sentidos, um
a um estendidos em seu limite, tantos anos
buscando a saída pela imagem
de que dentro, mais
ao centro, arde
o que encerra o labirinto perdido, miragem
que pulsa, corpo, sobre outros
labirintos, pedra, asfalto, areia,
carne, pensamento
sem a chave do mistério, no distúrbio
de não ser, além
de si e aquém,
algo mais que estas paredes
nuas e sangue e nervos
com o vazio
ao centro.

(das "Notas Marginais").

5/21/2009

Noturnos (uma letra de música)


NOTURNOS
(Fred Martins/Aldemar Norek)

se uma noite não tem fim
nem promessa de luar
e se o corpo não sentir
quando o mundo lhe tocar
ou se as coisas sem saber
dormem fora de lugar
e lá
você
ficou
sem sonhar

avenidas e sinais
outro clipe casual
paisagens são vitrais
estilhaços do real
que não colam nunca mais

e lá
por sobre o mar
hoje a noite sem estrela
só espelha os olhos dela
longa noite sem estrela
vela os olhos negros dela

(p.s. segundo o Fred, a música é um maracatu. Não sei não.....Mas é uma melodia muito bonita).

5/15/2009

Google traduzir esquizoide

21 St Century Schizoid Man, King Crimson, traduzido pelo google:


Cat's pé ferro garra
Neuro-cirurgiões gritar por mais
Na paranóia veneno da porta.
Século XXI esquizóide homem.

Block rack arame farpado
Polititians' pira funerária
Inocentes violadas com napalm fogo
Século XXI esquizóide homem.

Morte sementes cego da ganância
Poetas' crianças sangram
Nada ele tem que ele realmente necessita
Século XXI esquizóide homem.

5/13/2009

Filosofia

Entre o ar e a terra,
a água faz o seu ciclo.
O fogo evapora a água
e a leva para o ar.
O ar alimenta o fogo
e queima a terra, renovando-a.
A água apaga o fogo
e fertiliza novamente a terra.
É impossível misturar todos os quatro elementos.
Tudo o mais é vã filosofia.

5/12/2009

Conciliábulo

Mas porque eu deixaria como rastro
O amor que você,
Cobra me cobra pra
Amar como quem anda armado
Ou se armadilha em

Deserto, desterro ou arquipélago, se
Em sua ilha de amigos belicosos

Rastejar se oferece no cardápio frio
Entre seus perdões de chumbo
Pelo que você não tem, alma –
Ulcera engrenagem vazia, concílio
Devorador de sangue, vômito
Inodoro que o amor desmente,
Ou repudia.

5/11/2009

A rua



Às vezes, uma rua não é apenas uma rua. Uma rua pode ser um lugar denso de memórias. Só a repetição insana e infinda das idas e vindas por esta rua tornam-na um lugar denso. Descrever o que sinto ao caminhar nela seria uma grosseria. Pura estupidez. Já andei sozinho por ela muitas manhãs, tardes e noites também. Só a solidão repetitiva, insana e infinda, dá a esta rua sua única densidade. Densidade de significados inconscientes. Passados que se tornam presentes. Futuros que desejarão a revivência destes passados que se repetem. Insanamente. Infinitamente. Em mim.

5/06/2009

Meu rito de passagem

O rito: presentificação ou transposição do mito?
Mito de origem?
Meu rito é a transposição do complexo de Édipo em várias instâncias?
Ou simplesmente uma etapa crucial no processo de autoconhecimento?

Transformação, superação, modificação ou apenas externalização de um “eu’ dormente?
Sou quem sempre fui; sou a junção do “eu’ com o “tu”; sou o “nós”!
Que saia o indivíduo! Mas que o indivíduo se esvazie, e que o “nós” prevaleça!
Nenhum homem é uma ilha – que o “eu” fique cheio do “Nós”

Hoje realmente sou quem sempre fui
Na interação com o “tu” meu “eu” surge, todavia o “nós” prevalece!
Feliz do povo cujo “nós” prevalece sobre o “eu”
Feliz de mim!

Cogito ergo sum
Homo lupus homini
Post Tenebras Lux
E na coroa de Louros – Laura; na interação do “eu” com o “tu”, me torno quem sempre fui.
Enfim, depois de um curto tempo na escuridão, a luz surge das trevas!

Meu ritual de passagem foi o Amor;
Um amor que me sorriu numa tarde nublada de domingo
Um amor que, advindo apenas de uma troca de olhares,
Revelou-me que o deserto havia passado
Linda-Loira-Laura – coroa de louros para o perdedor-vencedor
Perdi certezas; ganhei paz e esperança.

5/03/2009

Para não morrer da verdade


Eu ele você os carros
E a santa aureolada
A noite de tantos se foi
Aos pedaços
Nada sobrou
A não ser a mão - na minha
E o travesseiro de pluma
Azulado

Pseudônimo

Ter um pseudônimo é ser heterônimo de si mesmo e ortônimo de sua insignificância.

Paineira: entre minha presença e minha saudade


A linguagem das paineiras

Para Igraine com saudade

Passado treze dias de marcha ruminesca
em direção ao nada, ao vazio e a mim
em viagem rumo aos centros de mim, da terra e do universo descentrados

universos translúcidos de der vi ches loucos: tempos loucos!

Um dos universos distinguíveis por seu silêncio fraternal
universo não-universal que desponta no poente e na aurora
universo de meio-tons
tonalidades que tocam as sensibilidades escondidas e perdidas
tesouros...

O amor na vertical da horizontalidade
E na verticalidade do horizonte

Fuga de horizontes nas descidas luminosas
E nas tonalidades ascendentes que surgem, brotam e se vão como uma suave música

Eis que chego em minha varanda
E sou presenteado
Entre árvores, plantas e folhas em 13 dias floresceram
Rosas meio-tons no caule e nas folhas de uma paineira solitária

Uma beleza nua e silenciosa no meio do sertão
No vale do sertão
Por apenas doze dias elas ficarão:
perecerão então:
deveria restar um botão?
E minha lembrança: eterna memória!

Fui brindado com o roseado caído
De uma majestasa paineira
Flores que brotam do nada
Flores que brotam das profundezas seivadas por pouco Tempo

A espera do vento e do Tempo
Para lentamente, pacientemente e docemente
Caírem: beijarem o chão
E nutrirem a terra para desabrocharem daqui um novo Tempo

A espera da minha contemplação
Da minha parca capacidade de ver, ouvir, tocar e sentir
Por instantes permaneço frente a ela e a vejo, sinto, escuto e toco: paineira solitária do sertão

Quantas flores caem por dia?

Gostaria de morrer e renascer
A cada instante, a cada cair das folhas da paineira que vive para bilhar o azul do céu
A esperar a esperança de penetrar na dança
Das folhas que brotam e caem
E no balé das folhas verdes que dão o tom perene do que fica no tronco e na raiz

Raiz sem rumos: rizoma de flores a bailar no céu
Neste instante silencioso busco o silêncio solitário da paineira do Ser Tão

5/01/2009

"sinto, logo sou"

Cogito ergo sum
Era esse meu lema: penso logo existo
Ledo engano
Coitado do Descartes... não sabia de nada!
Que se dane se meus sentidos me enganam
Sinto, logo sou!
Sentio ergo sum!