A linguagem das paineiras
Para Igraine com saudade
Passado treze dias de marcha ruminesca
em direção ao nada, ao vazio e a mim
em viagem rumo aos centros de mim, da terra e do universo descentrados
universos translúcidos de der vi ches loucos: tempos loucos!
Um dos universos distinguíveis por seu silêncio fraternal
universo não-universal que desponta no poente e na aurora
universo de meio-tons
tonalidades que tocam as sensibilidades escondidas e perdidas
tesouros...
O amor na vertical da horizontalidade
E na verticalidade do horizonte
Fuga de horizontes nas descidas luminosas
E nas tonalidades ascendentes que surgem, brotam e se vão como uma suave música
Eis que chego em minha varanda
E sou presenteado
Entre árvores, plantas e folhas em 13 dias floresceram
Rosas meio-tons no caule e nas folhas de uma paineira solitária
Uma beleza nua e silenciosa no meio do sertão
No vale do sertão
Por apenas doze dias elas ficarão:
perecerão então:
deveria restar um botão?
E minha lembrança: eterna memória!
Fui brindado com o roseado caído
De uma majestasa paineira
Flores que brotam do nada
Flores que brotam das profundezas seivadas por pouco Tempo
A espera do vento e do Tempo
Para lentamente, pacientemente e docemente
Caírem: beijarem o chão
E nutrirem a terra para desabrocharem daqui um novo Tempo
A espera da minha contemplação
Da minha parca capacidade de ver, ouvir, tocar e sentir
Por instantes permaneço frente a ela e a vejo, sinto, escuto e toco: paineira solitária do sertão
Quantas flores caem por dia?
Gostaria de morrer e renascer
A cada instante, a cada cair das folhas da paineira que vive para bilhar o azul do céu
A esperar a esperança de penetrar na dança
Das folhas que brotam e caem
E no balé das folhas verdes que dão o tom perene do que fica no tronco e na raiz
Raiz sem rumos: rizoma de flores a bailar no céu
Neste instante silencioso busco o silêncio solitário da paineira do Ser Tão
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