8/10/2014

na cidade industrial



o anjo se arrasta
pela calçada e sonha com a ruína
da cidade industrial enquanto mede
com os olhos vermelhos a distância
e a trajetória do voo impossível
até o Paraíso onde queima a sua alma
inexistente como o azul da voz que ecoa
em sua asa amputada. A ponte
que leva pra dentro tem chão de vidro
moído e ele escreve com passos e sangue
as palavras que suas asas riscariam
nos céus – é mais fácil medir o chão
imaginário e por isso sempre
mais letal, mas não se deve olhar
pra trás e tentar ler as palavras
cor de vinho que vazaram sobre o pavimento
feroz porque a asa
que sobrou arrasta suas penas e borra
a tinta antes que o sentido
evapore. Entre
despejos, catástrofes e flores febris, a asa
solitária é um aleijão, inútil
como  poemas que cicatrizam
na pele da memória enquanto
anoitece, iluminuras
que acendem com seus códigos
as luzes das avenidas.

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