Meus amigos, alegria
Em desespero, festa
Pela falta de motivo
De festejar – felicidade
Como desafio e provocação
Arrancada à fórceps
Dos pesadelos suicidas.
Meus amigos, como vocês serão
Sóbrios? Não sei, não quero saber
E tenho raiva de quem sabe.
Meus amigos, beber
Até cair no meio do caminho
Como as pedras
Chutadas pelo poeta.
Meus amigos, tudo
Deu em nada
Menos ainda
Quase nada: sempre resta
Alguma coisa, um vestígio
Dos projetos inconcluídos
E o amor, sempre,
Será aquele prato
Servido frio.
Meus amigos não são
O áspero edifício, menos
Ainda, o muro:
A rachadura, a fresta
A goteira, o terreno baldio.
Não são também o asfalto,
O caminho: o interstício
Entre a sola do sapato e o chão
O vazio que ressoa
Uma despedida e um sopro
No coração.
Meus amigos, sem nome
Próprio, o que pulsa
É o que há
De anônimo em tudo,
Espuma, superfície fina
Do oceano, da vida
A qualquer coisa
E o quase nada, o nunca
Serão ninguém, a falta
De rumo, o que se define
Pelo que se não é.
Meus amigos, cabelos azuis
E o fogo-fátuo
E as pedras agudas
Polidas na frieza
Do rio
E o merecido esquecimento.
Quando você é vulgar: apenas negocia convenções, não domina os segredos, qualquer um pode dizer que árvore é o nome de uma cidade, que cidade é o nome de uma arma, que arma é um sentimento, que sentimento é o nome de um faraó. A língua epistolar é a conversa vulgar no desentendimento, mesmo que este ocasione encontros repentinos e imprevistos. É quando uma criança autista diz pra você: se o mundo gira, porque você não fica tonto?
3/29/2010
3/25/2010
Mais um poema de L. M. Panero. O lamento do vampiro
Vocês, todos vocês, toda
essa carne que na rua
se acumula, são
alimento para mim
todos os olhos
cobertos de remela, como de quem
jamais acaba de acordar, como
quem olhando sem ver ou apenas pela espera
da aceitação absurda de um outro olhar,
todos vocês,
são para mim alimento, e o espanto
profundo de ter como espelho
único esses olhos de vidro, essa névoa
cruzada por mortos, esse
é o preço que pago por meus alimentos.
essa carne que na rua
se acumula, são
alimento para mim
todos os olhos
cobertos de remela, como de quem
jamais acaba de acordar, como
quem olhando sem ver ou apenas pela espera
da aceitação absurda de um outro olhar,
todos vocês,
são para mim alimento, e o espanto
profundo de ter como espelho
único esses olhos de vidro, essa névoa
cruzada por mortos, esse
é o preço que pago por meus alimentos.
3/24/2010
Dois poemas de L. M. Panero
1. Peter Punk
Peter Punk é o amor e Sininho sua princesa
no céu estão buscando o segredo do nada
todos os Garotos Perdidos.
Peter Punk é o amor e Sininho sua princesa
Capitão Gancho procura, em vão, o segredo de sua mão
e Sininho chora ao pé da Árvore Perdida
onde os anões e onde as sereias
Peter Punk tenta em vão seu amor explicar,
numa praia deserta Sininho o deixou.
2. Canção para um pub
Não temos fé
do outro lado desta vida
só nos espera o rock and roll
me diz a caveira que tenho entre as mãos
dança, dança o rock and roll
para o rock o tempo a vida são miséria
o álcool e o haxixe não dizem nada sobre a vida
sexo, drogas e rock and roll
o sol não brilha por causa do homem
o mesmo para o sexo e as drogas:
a morte é a buceta do rock and roll.
Dance até que a morte te chame
e diga suavemente vem
entre no reino do rock and roll.
Peter Punk é o amor e Sininho sua princesa
no céu estão buscando o segredo do nada
todos os Garotos Perdidos.
Peter Punk é o amor e Sininho sua princesa
Capitão Gancho procura, em vão, o segredo de sua mão
e Sininho chora ao pé da Árvore Perdida
onde os anões e onde as sereias
Peter Punk tenta em vão seu amor explicar,
numa praia deserta Sininho o deixou.
2. Canção para um pub
Não temos fé
do outro lado desta vida
só nos espera o rock and roll
me diz a caveira que tenho entre as mãos
dança, dança o rock and roll
para o rock o tempo a vida são miséria
o álcool e o haxixe não dizem nada sobre a vida
sexo, drogas e rock and roll
o sol não brilha por causa do homem
o mesmo para o sexo e as drogas:
a morte é a buceta do rock and roll.
Dance até que a morte te chame
e diga suavemente vem
entre no reino do rock and roll.
3/23/2010
Post-Scriptum
Parabéns, metabéns, hiperbéns,
nenhures algures aqui sórdido
coió dissender
congratulações dês-
graças a deus agradado
magnífico, aqui só con-
tributos positivar pra cima
sempre acima empre
endorismo cultural empre
sidiário planetário colateral aqui
o novo começa de novo
o novo sentir pena ou desprezo
aqui nunca humilhar magoar jogar pra cima o
desapego
aqui não latir ver caninos de chacretes-rodapé
ao parapeito do escritor parâ-
metro de astúcia, objeto-fetiche a própria desacontecida
realidade
aqui não metodologia aplacar o amargor
o derrotismo o obstáculo aqui só
vitória no melhor dos temp
los parabéns guardabéns muchas
gracinhas sacadinhas, nada como eu
comigo mesmo,
elogio preciso
como um relógio só pesar desprezar
aqui não cuspir contrainformações
só saber o dissabor o resto guarde
pra si, só soltar-se farpas se autoridades
consolidadas
nada contra
o objeto-fetiche, o lamuriento
congratulador, desprazer
em conhecê-lo & cuidado
com o que diz.
nenhures algures aqui sórdido
coió dissender
congratulações dês-
graças a deus agradado
magnífico, aqui só con-
tributos positivar pra cima
sempre acima empre
endorismo cultural empre
sidiário planetário colateral aqui
o novo começa de novo
o novo sentir pena ou desprezo
aqui nunca humilhar magoar jogar pra cima o
desapego
aqui não latir ver caninos de chacretes-rodapé
ao parapeito do escritor parâ-
metro de astúcia, objeto-fetiche a própria desacontecida
realidade
aqui não metodologia aplacar o amargor
o derrotismo o obstáculo aqui só
vitória no melhor dos temp
los parabéns guardabéns muchas
gracinhas sacadinhas, nada como eu
comigo mesmo,
elogio preciso
como um relógio só pesar desprezar
aqui não cuspir contrainformações
só saber o dissabor o resto guarde
pra si, só soltar-se farpas se autoridades
consolidadas
nada contra
o objeto-fetiche, o lamuriento
congratulador, desprazer
em conhecê-lo & cuidado
com o que diz.
3/21/2010
Uma cena dos infernos
Banquete pantagruélico
De elogios,
Capetinhas saciados
Anões vermelhos – vendedores
De enciclopédias
Tocam fogo nos dicionários
Restando apenas uma palavra
Nessa caixa de pandora pós-moderna:
Esperança, não,
Parabéns.
De elogios,
Capetinhas saciados
Anões vermelhos – vendedores
De enciclopédias
Tocam fogo nos dicionários
Restando apenas uma palavra
Nessa caixa de pandora pós-moderna:
Esperança, não,
Parabéns.
3/18/2010
***
Estilhaços, anterior
Flor de vidro:
Ele diz que perdeu-
Se nos filhos.
Ela se diz protegida
Por astros.
Ele diz que leva o desastre
No bolso:
(Credibilidade mongol
Caco de lesma elétrica
Céu de vidro ensebado)
Ela diz que a morte
Memoriza fotográfica.
Ele diz que os coqueiros
São ventiladores.
Ela diz qualquer coisa
Calada.
Ela diz ter más línguas
Sanguessugas
Grudadas na carne.
Ele ouviu que seu sangue
É podre, ou mineral –
De areia suja do litoral
Da Bahia.
Ela observa o céu
Vermelho,
Ele observa o céu
Vermelho,
Alegria de olhos
Duplicados no céu vermelho:
Ele observa nos olhos dela
Ela observa nos olhos dele
O céu vermelho.
Eu os observo, escuto - recolho
Os fragmentos, compor
A nova flor de vidro,
Flor vermelha, sanguínea
Translúcida, flor de mal
Entendido, flor de areia
E música sutil.
Flora.
Flor de vidro:
Ele diz que perdeu-
Se nos filhos.
Ela se diz protegida
Por astros.
Ele diz que leva o desastre
No bolso:
(Credibilidade mongol
Caco de lesma elétrica
Céu de vidro ensebado)
Ela diz que a morte
Memoriza fotográfica.
Ele diz que os coqueiros
São ventiladores.
Ela diz qualquer coisa
Calada.
Ela diz ter más línguas
Sanguessugas
Grudadas na carne.
Ele ouviu que seu sangue
É podre, ou mineral –
De areia suja do litoral
Da Bahia.
Ela observa o céu
Vermelho,
Ele observa o céu
Vermelho,
Alegria de olhos
Duplicados no céu vermelho:
Ele observa nos olhos dela
Ela observa nos olhos dele
O céu vermelho.
Eu os observo, escuto - recolho
Os fragmentos, compor
A nova flor de vidro,
Flor vermelha, sanguínea
Translúcida, flor de mal
Entendido, flor de areia
E música sutil.
Flora.
3/14/2010
o passado olha pra si mesmo no espelho de breu de seu corpo, essa massa amorfa e esburacada, o passado é um corpo cheio de crateras, cheio de vazios que lhe cortam a carne por dentro, infinitos canais, caminhos, corredores tortos cercados da matéria escura de que ele é feito.
o presente se perde por caminhos tortos, corredores, o presente é um vazio sitiado pela massa escura, são milhares de poros por onde a vida corre, como raízes do vazio esburacando a matéria do tempo a cada segundo que você arranca à toda, e neste avanço incerto o lixo da sua vida adere à massa negra da memória e pulsa
o futuro espreita de fora.
o presente se perde por caminhos tortos, corredores, o presente é um vazio sitiado pela massa escura, são milhares de poros por onde a vida corre, como raízes do vazio esburacando a matéria do tempo a cada segundo que você arranca à toda, e neste avanço incerto o lixo da sua vida adere à massa negra da memória e pulsa
o futuro espreita de fora.
Ainda o anacronismo
1
O futuro não foi
Aquele presente
Que seu passado
Prometeu.
2. Um homem à frente do seu tempo
Ele corre –
As pernas quase
Não movem.
Atrás de si
A respiração, ressonância
De fantasmas.
Ele alcança
A chave, bate a porta
Na cara do perseguidor.
O futuro não foi
Aquele presente
Que seu passado
Prometeu.
2. Um homem à frente do seu tempo
Ele corre –
As pernas quase
Não movem.
Atrás de si
A respiração, ressonância
De fantasmas.
Ele alcança
A chave, bate a porta
Na cara do perseguidor.
3/13/2010
3/11/2010
3/10/2010
Anacronismo
O que era anacrônico, futuro de um passado estagnado como água morta, fantasma dentro da garrafa
Agora
É ainda mais anacrônico, passado tão remoto que jamais aconteceu no futuro que é outro
Definitivamente.
Tempo é criança –
Curtição de jogos cruéis.
Agora
É ainda mais anacrônico, passado tão remoto que jamais aconteceu no futuro que é outro
Definitivamente.
Tempo é criança –
Curtição de jogos cruéis.
3/07/2010
o que é o presente?
tinha 20 e poucos anos
sabia muito pouco ainda
deu todos os passos certos
os caminhos do mundo não estavam lá
sabia muito pouco ainda
deu todos os passos certos
os caminhos do mundo não estavam lá
3/04/2010
Anarquizar
Mãe, conheço bem esse medo de morrer e esse medo de não ser amado e como o medo vem do suspense, por incrível que pareça a certeza de morrer, escondendo a vida sob sombras, a certeza de não ser amado, devolvendo de antemão o ódio que ainda não foi criado, tudo isso diminui o medo e reconforta. Eu sei que isso é óbvio e que o óbvio é o ópio do povo, então se o que eu dissesse mudasse alguma coisa eu te diria pra anarquizar.
Anarquizar com o passado, tudo pode ser embrulhado num pacote misturado e sorteado de novo – anarquizar a mania de perseguição, que se justifica até certo ponto, o mundo é infestado de filhos da puta, mas se somos sapos peçonhentos é porque humor paralisado e aquecido lentamente vira veneno, o lance é soltar o veneno, deixar o veneno correr, apostar em qualquer tipo de alquimia que faça do veneno em movimento outra coisa, fogo líquido vermelho da fraternidade ou luz líquida do êxtase. Deixar o veneno correr é um conselho prático.
Anarquizar com a percepção e com a consciência mediante um regime regular de drogas, claro que com metodologia, objetivo e justificativa, ou então, se as drogas forem ilegais e fizerem mal à saúde, mãe, pelo menos anarquizar com algo do tipo respiração alotrópica, ou ainda anarquizar com a lucidez – se o problema é o entorpecimento organizado, os demônios mudaram de nome e agora se chamam Wyeth, Rroche Sélavy, Patrulha da Felicidade, uma gota de lucidez para eles funciona quase como água benta, aliás,
Anarquizar a felicidade – uma vez cheguei a pensar que morava numa cidade de fantasmas, mas observando as sutis engrenagens de prazer e dor que fazem o mundo funcionar rangendo, não, tudo é real, é que o real precisa ser arrancado de dentro de nós e de dentro do mundo como se arrancássemos raízes presas em nossas pernas.
Não mãe, tudo é real. Daí todos os gestos e palavras que ferem: melhor ignorar o que não se entende, quem vai buscar explicações só encontra os seus fantasmas disfarçados de silogismos. A coerência da vida é que não é real, o entendimento, as palavras, essas então, pobres coitadas.
Anarquizar com essa regra: tudo o que se entende está errado, tudo o que se conhece é delírio coletivo, tudo o que escapa mas fere, tudo o que está represado mas é movimento, toda a força e toda a lucidez tratada como doença, desvio, mas que é alegria querendo explodir, tudo isso é real. E o real é de onde se começa a anarquizar.
Anarquizar com o passado, tudo pode ser embrulhado num pacote misturado e sorteado de novo – anarquizar a mania de perseguição, que se justifica até certo ponto, o mundo é infestado de filhos da puta, mas se somos sapos peçonhentos é porque humor paralisado e aquecido lentamente vira veneno, o lance é soltar o veneno, deixar o veneno correr, apostar em qualquer tipo de alquimia que faça do veneno em movimento outra coisa, fogo líquido vermelho da fraternidade ou luz líquida do êxtase. Deixar o veneno correr é um conselho prático.
Anarquizar com a percepção e com a consciência mediante um regime regular de drogas, claro que com metodologia, objetivo e justificativa, ou então, se as drogas forem ilegais e fizerem mal à saúde, mãe, pelo menos anarquizar com algo do tipo respiração alotrópica, ou ainda anarquizar com a lucidez – se o problema é o entorpecimento organizado, os demônios mudaram de nome e agora se chamam Wyeth, Rroche Sélavy, Patrulha da Felicidade, uma gota de lucidez para eles funciona quase como água benta, aliás,
Anarquizar a felicidade – uma vez cheguei a pensar que morava numa cidade de fantasmas, mas observando as sutis engrenagens de prazer e dor que fazem o mundo funcionar rangendo, não, tudo é real, é que o real precisa ser arrancado de dentro de nós e de dentro do mundo como se arrancássemos raízes presas em nossas pernas.
Não mãe, tudo é real. Daí todos os gestos e palavras que ferem: melhor ignorar o que não se entende, quem vai buscar explicações só encontra os seus fantasmas disfarçados de silogismos. A coerência da vida é que não é real, o entendimento, as palavras, essas então, pobres coitadas.
Anarquizar com essa regra: tudo o que se entende está errado, tudo o que se conhece é delírio coletivo, tudo o que escapa mas fere, tudo o que está represado mas é movimento, toda a força e toda a lucidez tratada como doença, desvio, mas que é alegria querendo explodir, tudo isso é real. E o real é de onde se começa a anarquizar.
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